Ainda não voltei


E de frente para todas as coisas
A passos largos ou pausados
Deslumbro a minha existência fora de mim
Numa que não sou eu
Assumo a história de todos os que proximamente me rodeiam
Como se eles mesmos não soubessem viver a vida deles
Mas sou eu que não sei viver a minha
E olho para trás em todas as coisas
Não vejo nada senão actos que não foram meus
Escolhas que me são alheias
Quero ir embora, quero ir embora
Sem terra e sem mãe
Quero ser mãe dos meus sonhos
Criá-los como estes passos largos
Vivê-los pausados
Nada disto é meu
Por capricho de não tocar em nada nem tomar nada como meu
Não querer adquirir nada para além de livros e mais sonhos
Resta de mim apenas a roupa preta espalhada pela casa
A sombra do que realmente sou
Estou mal
Sinto-me intrinsecamente mal
Incapaz de olhar para mim própria
Confrontada pelo espelho, sinto-me bem
Mas as pedras da rua
As pedras da rua estão a julgar-me a cada passo que dou
Julgo-me parada
Tropeço nos pássaros que cantam no meu ouvido
De um livro que fala da leveza da alma
Pesada
A pagar para viver numa cidade que não gosto
A fazer o que não quero
Juntei-me a peça teatral dos demais
Perdi-me, confesso
Quero ir embora, quero ir embora
Mudar de nome
Já pensaram em mudar de nome?
Antes disso tenho que acabar de fumar.

1 comentário:

  1. Quando não há regressos, os vislumbres servem para mitigar qualquer coisa.

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