Porque podes


"I need you as the one luminous point in my madness."

Sabes que às vezes quero morrer? Não sabes. Até te digo que estou feliz e não precisas de conversar com este monstro. Mas às vezes quero morrer. Estou a mentir-te. Sempre antes de começar um novo dia, antes de fechar os olhos para mais horas a seguir levantar a alma que me pesa. Quero morrer e não tenho vergonha disso. Parece-te vulgar? Achas que estou a ser ingrata? Eu não sou boa pessoa. Não gosto de estar viva e queria acabar já com esta ansiedade de saber que amanhã o dia é igual. Achas que vou acabar por fraquejar e contar-te a verdade, dizer-te que me vejas com olhos surpresos quando te digo que achei que me podias fazer menos sozinha enquanto louca? Não podes. Não sou boa pessoa. No meu íntimo odeio-te, não como odeio toda a gente, mas sou frágil e construída à base de traumas e desculpas estúpidas para mim mesma. Estás a ver a porra de cliché que arranjas para me dizer a toda a hora como conversa inteligente? Pronto. É isso. O teu corpo é isso. Tu és isso. Tão importante como inútil neste momento. Queres morrer? Achei que me fosses perceber. Que te podia esclarecer dúvidas geniais. Que até podia encontrar solução para este pano. Mas volta e meia levanta-se e lá vamos nós ao palco. Não queres morrer. Gostas da vida. Ainda que vulgar. Talvez eu seja só mesmo ingrata. Ou vazia. Ou não sei o que quero. Não quero nada. Já disse aqui, já sei. Já sei que leste esta merda, outras merdas, mil merdas. Não percebeste ainda que eu quero morrer? Talvez, um dia, o faça mesmo. E mate este sonho que vive dentro de mim e que eu não sei sonhar. Não, não preciso que me digas que tenho capacidades, sou espectacular e que vou conseguir. Se eu me quisesse matar, já me tinha matado. Mas tenho medo, tenho medo que no fim queira só estar viva, ter uma casa e o teu ódio sentado do meu lado. Não quero?

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