Não sei sonhar mais


Não interessa realmente quantos tipos de homem consegues ser. É preciso que respeites as vontades de cada um, que escutes o que cada um te fala ao ouvido sobre ti. Não creio que estejam todos correctos e não quero acreditar que é preciso saber o que queres para seres feliz, mas é necessária uma consciencialização de todas as ambições que não tens, os sonhos que nunca podes tomar como teus, os pormenores que não gostas, as matérias que não te cativam. Ainda que não saibas tudo o que queres, é preciso saber aquilo não consta na tua lista de prioridades ou tolerâncias. Especialmente, neste último ponto. Não toleres. Não dês espaço na tua vida para aquilo que não toleras. É tão fácil ver o lado negativo de tudo, mas é tão complicado ser cru. E é de ser cru, é de ser inteiro, é de ser parte após parte o que és, que eu me tenho apercebido que precisas de ser, homem. Minúsculo, sim. É em todas as coisas que vais escondendo, que evitas tocar, das quais tens medo, as quais não queres, que reside tudo o que és. É em cada homem que és para não ser outro, que és mais homem, em cada papel que assumes para não ser mais nada que isso, que és mais um pouco de ti. Só um pouco. E pouco a pouco. Não sei porque insisti, talvez ainda insista, nesta repugnância à mentira, à farsa, ao fingir ser porque quanto mais finjo mais me enquadro. Numa clara oposição como a que te descrevo de seres o que não queres ser, evitando claramente ser tal coisa. Quando tiveres que quantificar quantos consegues ser e tiveres que escolher os que pretendes terminar por aqui, fala-me apenas do que não gostas. Não quero saber o que te faz feliz, não quero saber o que achas que podes fazer, não quero saber as perspectivas de futuro que tens. Quero saber o que te assusta ser, as saudades que tens à noite, o quanto pode ser escuro se nem tudo correr bem, as coisas que não aceitas fazer e fazes todos os dias. Isso fala-me em uníssono, em voz grave de todos os homens que achas que és, em voz rouca de todos os homens que realmente és. Eu escuto o que não é para ser escutado, observo o que não deve ser visto, gosto especialmente de saber o que odeias, não queres e te enoja porque há poucos, como poucos, que não fazem aquilo que não gostam e que não querem, sabendo estar menos. É preciso haver a consciencialização deste processo de ser que passa muito por transformar o que somos, evitando saber o que queremos, humildes, evitando fazer o que não queremos, arrogantes. Calma, devagar, espera. Não o será na tua vida até que não o sejas. 

2 comentários:

  1. Consciencialização, a palavra que pauta esta redacção.

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  2. Tu és crua. Adoro isso. És sempre tão terra-a-terra. Adoro <3

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