Há um distorcer do pragmatismo das coisas que tenho de abandonar. Não viverei tempo suficiente para fazer do pensamento de sonhar um acto, nunca nenhum de nós viverá. E ninguém que foi eterno teve na falta de antecipação a sua glória. Não posso jogar de vidente de mim mesma, fazer previsões às minhas circunstâncias. Já fui focada e tão cega e de tanto querer ver fiquei com um estigmatismo para o movimento da vida. Aquilo que me liga à terra não é isto, não é esta maneira de a ver. Já não a sinto com os pés, não a pinto com as pontas dos dedos. Apoderei-me de uma falta de poder porque não quero nada mais. Perdi a ambiguidade e ganhei a divisão. Onde está a minha fome mascarada de vontade de viver, onde está a minha rebeldia aos clichés e frases feitas, ao facilitismo, ao ficar sentado à espera que aconteça? Todos os alvos destas criticas sou eu agora. Com as melhores dissertações sobre mim mesma, perdida em palavras e já sem sair para apanhar chuva, fechar-me de amor feito de silêncio entre pó e areia que sacudo dos pés, querendo voltar sempre a mim. Tenho medo do que vou encontrar quando ligar para me encontrar. Tenho medo da minha mesma cara de reprovação. Da frontalidade das perguntas que acabam sempre por querer saber o que me aconteceu, que eu não sou eu. Já caiu na inconveniência de não ter nada para dizer, no tédio de mim mesma, no sono profundo sem necessidade de dormir. - Tenho saudades tuas. Gostava de dizer, mas não tenho. E é por isso que tenho receio da cara que olha de frente agora. Eu nunca soube voltar e que farei eu quando a viagem que se faz em retrocesso é o destino que não tem tempo nem espaço nem corpo nem nada mais que alma. O que está dentro de nós e nos fala e não se cala nunca, que não tem descanso, que não tem insónias, que não tem cansaço, que não tem força. Que se apresenta em espírito, mas não tem estado. Preciso de montar o puzzle de mim mesma com a naturalidade de uma criança que apenas junta as peças, que aprecia o resultado porque só ele é prova do esforço, tão leve ainda assim, mas só ele é consistência de nós mesmos. Não me quero tornar na ausência de mim mesma e fazer-me esquecer, tendo ainda assim tanto mais interesse do que aquilo que é dito. Não são capazes de me oferecer mais e eu tenho agora imensa pena de não conseguir imaginar-vos noutro papel. Estou a passos pequenos do horizonte e de encontro ao meu deus, que espera impaciente. A tolerância, a calma, a flexibilidade deverá ter limites para aqueles que acreditam apenas em si mesmos e na relatividade de tudo. E não quero não ser nada, estou pouco cheia de mim. Estou cheia de tudo. Nem farta, nem cansada, cheia de tudo, só. Só. Entrego-me. Tenho que me entregar, devo entregar-me. É comigo que eu não lido bem. - Tenho saudades tuas. Gostava de dizer que não, mas tenho. E não posso esperar.
O que as saudades podem fazer a uma pessoa! Mais uma vez, parabéns pelas tuas palavras. Pões a nossa alma completamente a nu!
ResponderEliminarao ler-te senti-te mesmo completamente saturada! liberta-te desse sentimento, a saudade consome-nos...
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r: foi positivo. sempre adorei ler-te! a saudade torna-nos pesados daí serem precisas palavras pesadas igualmente. :)
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r: a tua escrita sempre foi das minhas preferidas. :)
ResponderEliminarSim, isto tem sido devagar, ando a começar com pequenas coisas porque uma mudança drástica pode ser o primeiro passo para a desmotivação! :)