És pouco


Vale a pena? Não tenho paciência para esperar, nunca tive. Ainda assim acabo por chegar quase sempre atrasada ou um minuto antes mas nunca tive paciência para esperar. Tomara que fosses pó, partículas deambulando pelo quarto, comigo a girar num rodopio do meu indicador atravessando um feixe de luz. Nunca tive paciência. Apercebo-me agora da minha ansiedade, analiso-me ao longe e percebo que nunca soube ter calma. Calma na alma, dizem eles. Prudência, pouco confuso pensamento, sede do que se tem. Morro de sede, canso-me ao acordar. Não tenho paciência para esperar por ninguém, nunca tive. A noção da perda, da ausência final e do tempo que passa. Das coisas que se deixaram por fazer e eu nunca tive paciência para mim, por isso vou. Vou fazer mesmo quando não quero, vou dizer mesmo quando não posso, vou embora mesmo quando não devia ir. Tomara que fosses chá de pimenta, que quem te tomasse gostasse de morrer. Numa caneca por entre os meus dedos enquanto me sento na cama de pernas cruzadas à espera da vida. E na toxicidade das pontas espigadas do meu cabelo fizesses crescer paz com flores pequenas e amarelas, e me fizesses outra vez criança. Por entre os amigos imaginários que matei e por dentro desta vontade de não ter quatro paredes para morar. E do desinteresse que tenho por ti podias contar-me histórias de livros em promoção. Que se ainda há outra coisa para a qual não tenho paciência é para pessoas que gostam de estar. Estar, estar, estar. Estar é feio e é só o que sabes fazer. Tomara que não estivesses tu. Toda a gente menos tu. Quem dera que fosses. Não tenho paciência para ti. Posso esperar por ti mas sei que não estarei à espera quando chegares. 

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