Um dia, no mundo, não vai chover em lado nenhum. Poderei parar de falar de cada um de vós deste modo com riso onde o nervosismo está escondido no coração, no estômago e na arte. Falar tudo, vou falar tudo como quem escreve isto e não vou esconder nada como agora o escondo. Não vou confessar às paredes de quem gosto, não vou disfarçar quem me toca à alma, as minhas primeiras impressões ainda vão ser válidas. Guardar tudo em segredo, mesmo tudo, em vez de só guardar que sei sentir. Que a pele que sempre foi tocada agressivamente gosta agora de ser só tocada, que não gelo a cara de tristeza porque estou impávida mas não serena. Um dia talvez eu morra, porque às tantas da vida nem da morte estou certa. Não vou ter mais caixas nem cartas nem sorrisos, vou ter cafés, cigarros descontraídos e vou ligar-vos. A despedir-me de mim. Do que não gosto de ser agora. Do que não quero mais ser e não sei largar. Da falsa união, da falsa amizade, do falso amor, da falsa carne. Serei eu, deitada no chão do quarto, a representar peças sem espectadores. Contigo na mente, com todos os electrões que me atravessam quando penso na tua imagem. Um dia, o céu não vai ter mais almas para encher e o inferno vai estar lotado, voltarei a encontrar-te, a acreditar no destino, a ter fé e a ter sonhos. Como um desejo enquanto sopro as velas que já não sei contar, a contar o tempo que não passe, a falar para ti como se depois de milhares de anos ainda fosse tudo igual. A instabilidade será compreendida, o caos tomará lugar, haverá movimento e toda a gente vai perceber que não são os sinais dos tempos, que não há lugar nem relógio para se ser inconformista. Será libertador perceber o amor como uma liberdade, sem definição, onde o amor não exista realmente porque nada se tem e se pode dar lugar a tudo. E eu vou estar. Todas as que sou paralelas vão estar. Sóbrias, lúcidas, focadas. Que ainda não soube ser só uma e estar em comunhão comigo. Um dia vou fugir, vou mesmo. Vou deixar de querer, de desejar, de possuir. Serei o mundo e porque serei o mundo, não vai chover. Nesse dia vou poder ficar em casa porque quero e não porque me escondo. Vou ter paredes brancas pintadas à pressa, flores pela casa porque nunca as tive, cheiro a sumo de laranja pela cozinha, subtil como será a sala pequena com um sofá para um ou dois. E para os amigos, muito espaço, muitas varandas, muita luz. Que nesse dia como hoje eu perceba que tenho de viver e não vos ligar e não vos pedir desculpa e não me despedir. Há tanta coisa que eu pedi para ter agora e não sei guardar na palma da mão. Só quero ir e voltar sempre, e prometo, voltar sempre.
Eis como um regresso teu a estas águas blogosféricas nos faz navegar na coerência das tuas palavras suspiradas entrelinhas.
ResponderEliminarE desde que voltes estará sempre alguém à tua espera. Porque tu, minha querida, és especial :)
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