Muito, particularmente


Varrer a memória é bem fácil, quando não encontras perdão para nada. A clareza das minhas palavras vai simplesmente como a sinceridade que me rodeia. Ataques de pânico num canto longe e tirando isso, quero que tudo se foda. Tenho o diabo no corpo porque o chamei, não porque alguém me ensinou. Ninguém me ensina merda nenhuma. Chamadas de consolo num canto perto e tirando isso, outra vez, quero que todos desapareçam. Não tenho coração para partir. Não tenho dor para sentir. E estou a mentir-te, eu sei, eu sei. Perdoa-me que é para teu bem. Tu não sabes onde eu me meti, o que eu fiz de mim, não sabes ver no escuro. Fodidos da cabeça, como eu nunca vi e já vi tantos e nenhum como nós. Tirei o plural ao mesmo e o mesmo a isto. Era bem capaz de te matar. Olho-me ao espelho e repito fracturas de ti, estás longe de ser o diabo. Já podes chorar, o inferno não tem lugar para ti. Não há casa que te tenha, lugar que te sustente, alma que te retenha. Joga à sorte, um dia vais lá chegar, não é isso que te interessa. Este mundo nunca viveu em ti e vais sempre viver no canto mais longe e no canto mais perto que este tiver. Tu queres. Espera. Tu não queres. Esperar. Eu só quero que morras daquela morte que se tem a pagar, sem eu ter que gastar nada. No fundo, só se te fosses realmente foder é que eu ficava mais aliviada. Peço desculpa por viver a dor dos outros, nunca confessei que às vezes me dá para rir, mas agora ficas a saber. Nada me poderá vir a prender. Afinal é cada vez mais complicado.

4 comentários:

  1. Se varrer a memória fosse fácil eu seria a pessoa mais feliz do mundo. Às vezes penso que não tenho medo do inferno quando morrer porque já o vivi em vida.

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  2. pela evolução das coisas, tendencialmente há sempre coisas cada vez mais complicadas!

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  3. Saudades desta escrita. É sempre uma viagem.

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