"Cheguei hoje, de repente, a uma sensação absurda e justa.
Reparei, num relâmpago íntimo, que não sou ninguém.
Ninguém, absolutamente ninguém."
Nós passamos muito tempo no meu último ano do secundário, na biblioteca branca da minha escola, a ser o que melhor tínhamos. Silêncio. E a ler o Livro do Desassossego. "Vais ler isso tudo?". Perguntas te e não, não li. Porque tu eras melhor de ler e saber. Eu acho que o único momento que gostava de ter o sabor outra vez, era esse. Devo muito a levares-me para todos os sítios possíveis e ires buscar-me lá, à biblioteca iluminada, às sete, quando saías da faculdade e não falávamos de nós, falávamos da vida. Íamos para Lisboa. Íamos para Londres. E enquanto não íamos para nenhum desses sítios, alugaste uma casa no Gerês para me fazer feliz. Eu tinha sonhos e no dia em que te deixei, perdi tudo. Eu nunca mais me encontrei. Fiquei perdida na tua casa, no teu quarto, muito na tua cama. Fiquei perdida nos quadros que pintei para ti e nas músicas que tentaste tocar para mim na tua guitarra quase partida. Fiquei perdida no nosso gosto por motas e fiquei perdida por ficar perdida contigo no meio da serra quando fazíamos escalada. Acho que conheci a definição de aventura contigo e hoje tudo o que faço que é tão ou mais perigoso que isso, tem sempre o teu nome que eu quero esquecer. Eu quero esquecer-te. Como no filme que gostamos. Eu quero apagar-te da minha memória.
Perguntaram-me esta semana se alguma vez amei e o teu nome fez eco na minha cabeça. No meu coração. Na minha pele e eu disse: "Sim. E eu não quero. Não era suposto. Já senti o que era deixar alguém e sentir que me estava a deixar para trás. Naquele momento em que tu acabas algo e sabes que te vai passar, sabes? Eu não tive esse momento. Eu deixei e conscientemente soube que nunca mais ia amar assim". E desde esse dia que perdi um pouco da paixão pela vida. Eu revolto-me por não continuar nada. E dói-me que tudo em mim sejam começos e fins. Canso-me das pessoas mas queixo-me se não as tenho. Eu não sei viver com os outros. Há em mim vontades de destruir tudo o que tenho. Frequentes. De não confiar em nada, nem em mim. De ser falsa ao ponto de me recusar a amar outra vez. De todos os meus sofrimentos passageiros cujas as dores não consigo comparar porque não me lembro, este dói-me muito. Eu quero fugir daqui. Eu quero sair daqui. Eu quero começar de novo. Longe de tudo o que me lembra de ti, porque já passou um ano e tu não me deixas viver. Eu perco-me de amores, eu apaixono-me, mas ninguém me sabe a tinta, papel e inspiração como tu e tenho que me habituar a escrever sobre saudade sem chorar.
Eu tenho acordado todos os dias com esta vontade de deixar tudo porque me habituei a deixar coisas quando te deixei a ti e desculpa. Eu nunca te pedi desculpa. Sei que não se faz o que eu fiz. Sei que não se deve ser o que eu sou. Mas tu amaste-me assim e agora que eu já não sou assim, revolta-me não ter a tua voz a puxar-me de volta. Mas eu recuso-me. Apesar de eu já não te amar, já não sonhar e estar a viver isto tudo outra vez, sem receio de que a vida sejam ciclos. Eu só sei ser como fui contigo e foi aí que eu fui feliz. Porque antes de me perguntarem se eu já amei, deviam-me ter perguntado se eu já sonhei e o nome era o mesmo. O teu. Porque nada me passa. Eu começo. Eu acabo. Mas nunca continuo. Canso-me e queixo-me. Das pessoas e de estar sozinha. E não sei ser de outra maneira, acabando por não ser nada por nada me passar. Se eu, pelo menos, sentisse realmente a tua falta...
Não tenhas medo de amar, não tenhas medo de esquecer quem um dia amaste. Deixa-te ser feliz! Deixa que a felicidade te procure ou vai atrás dela. E baseado no que me dizes a mim, da mesma maneira que eu posso ainda nao ter encontrado alguém compatível comigo, tu podes não continuar as coisas porque não estava destinado. Mas nem sempre o destino controla tudo, nós também temos uma palavra a dizer. E não tenhas medo de tentar continuar. O pior que pode acontecer é colocares um fim, apenas mais tardio.
ResponderEliminarFalta-te a chama de viver. Alguém te acenda. Alguém volte a dar vida aquele fogo que tu tinhas dentro de ti. Aquele em que te sentes como se o mundo pudesse ser teu, só teu. E eu acredito que vais encontrar aquele "isqueiro,fósforo" que irá conseguir acender de novo o teu pavio.
ResponderEliminarComeça a ser difícil escolher as palavras certas para te agradecer. Tudo o que me deixas pelo meu cantinho me faz sentir tão menos sozinha. Desde que me lembro de escrever que a coisa mais quentinha que me podem dizer é que soube chegar com as minhas palavras a corações doridos. Que me entendem. Fazes-me sentir um bocadinho mais compreendida, menos insana. Amar é isto: achar o norte e perdê-lo. E andar perdido. E se o sabemos, certamente é porque amámos. Eu, como tu, sinto que não vai haver alguém que me volte a fazer sentir o mundo dentro do peito. Pode ser que estejamos erradas. Espero que estejamos erradas.
ResponderEliminarUm beijinho do tamanho do mundo. E obrigada :)
a vida reserva-nos surpresas que nunca pensámos viver... E não avisam, as surpresas... aparecem num piscar de olhos. e quando damos conta, estamos outra vez a sorrir! :)
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