Condenação


Tenho leves arrepios de raiva na espinha. Empurro-me contra os lençóis e enterro a cabeça na almofada enquanto dou voltas ao teu nome e o teu nome já não tem história. Há em mim ainda maiores vontades de te tirar da minha vida. Eu nunca me perco em muito tempo nas coisas  e temo que a minha estupidez esteja em fazer o mesmo com as pessoas. Posso achar-me altruísta por lhes poupar tempo, afinal nada do que tenho para dizer é interessante senão para mim mesma e funciona assim mas ninguém parece entender e não me interessa tão pouco isso, mas não passo de uma descrente. Às vezes a minha falta de fé estende-se à curiosidade, outras vezes estende-se para a vida. E tenho nos amores e nas relações de dar e receber com as pessoas mais um pouco de egoísmo a contrastar com o pouco tempo que lhes quero roubar, quando espero que elas me ensinem a viver e nisto não somos iguais porque estou convencida de que ser feliz passa por ser aluna e ambos sabemos que há pessoas que não querem ser felizes. É triste não sentir nada, é verdade. Eu podia dizer que gosto muito de ti e era mentira. Eu não sinto nada por ninguém, isto porque aquilo que as pessoas entendem é o passado, são livros de história e eu não amo tempo suficiente para haver registo daquilo que sinto. Enquanto que escrevo, deixo de sentir e é bastante complicado para mim assimilar a ausência de coisas no peito mas só eu sei como vai ficando mais fácil e se houvesse um deus ele dava-me medo porque há que ter medo de se ser mais pessoa do que humano. Mas creio que estando perante ti estou perante a incapacidade por livre e espontânea vontade, a falta de crença escolhida e a ausência de sentimento de quem não sabe viver. Não me apontes o dedo para dizer que também não sei. Poderás estar correcto mas há uma diferença entre ter opções ou não as ter. A tua possível defesa seria dizer que nascemos assim e eu poderia aceitar mas existem coisas chamadas oportunidades e tu tens uma tendência descomunal para falhar. A vida pode oferecer-te uma bonita mente, mil corpos e quem sabe mais sorte do que a que tenho tido, e tu, atiras tudo ao lixo. Revolta-me. Não te sintas importante. Não me revoltas, não é isso. Revolta-me dar hipótese a pessoas como tu só porque sou fraca o suficiente para querer alguém que me entenda. É porque afinal ainda posso respirar de alivio e dizer que sinto falta de sentir falta mas peço desculpa por lidar bem com a perda. Eu gostava que me entendessem mas nunca fiz o mínimo esforço já que dou tantas voltas à vida como dou na minha almofada a pensar como é que entraste na minha vida. E eu não te quero. Não assim. Já que há uma substancial diferença em querer e ter e há nas tuas pontes más construções de palavras e actos graves. É meu amor, tu tens pouco de amor e estou pouco a precisar de meias-coisas. A tua incapacidade de ser feliz, - não vamos falar da minha porque é diferente da tua -, ainda te vai fazer perder muita coisa e começamos por mim que sou tão fácil de vir como de ir, já que faz parte da minha natureza não ter o tempo bem medido, já por isso nasci no errado e havia sempre de nascer. Mas quem gosta de escolher és tu. E hoje a minha escolha é não te entender.

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