"Ever Thine, Ever Mine, Ever Ours"


Dentro do quarto não se consegue respirar. O ar é abafado e todas as portas e janelas estão fechadas, juntando as partículas do nosso suor às dos átomos de oxigénio, a soma são quatro paredes de desejo. Nunca amei alguém como te amo a ti. Amo-te neste instante em que o sol de primavera passa a custo por entre a persiana e desenha no teu peito quadrados arredondados de luz. Amarela, luz amarela, na tua pele morena. Em sentido obliquo e seguindo as curvas do teu músculo. Passo-te a mão no mamilo e arrepias-te. Foi sem querer. Sento o queixo na tua clavícula e ouço-te. Porque te quero ouvir. Quero ouvir quando dizes que me perdoas e quero ouvir quando magoado, ainda assim, dizes que me queres. Pedes-me para ficar contigo e eu não quero ficar contigo. Deitas-me na cama outra vez, enquanto tento não perder um segundo do dourado que tens nos olhos. Sempre foram os meus olhos favoritos. Em todos os olhos procuro os teus. Em todos os homens procuro-te a ti. Adormeço a pensar que estou a adiar o inevitável, deixar-te. Mas acordas-me debaixo dos lençóis brancos, enquanto constróis um tecto com as tuas costas e passas a mão nas minhas. Quando me amarras na anca e me viras para ti, olho para cima e percebo que este é o meu mundo, que já fiz de ti a minha casa e que sobre a minha casa nada sei, nem de que cor são as paredes, nem se há flores na entrada. Dizes-me palavras que trago no peito até hoje a descrever como a minha complexidade te conquistou e eu confesso que não sei nada sobre ti e insisto em permanecer assim. 
Mas hoje arrependo-me de ter permanecido assim. Não me interpretes mal, eu não quero voltar atrás. Mas se não fosses tão misterioso, talvez eu te conseguisse odiar mais. Amei-te desde o primeiro dia em que te conheci e vou amar-te até deixar de te conhecer. Estive ao teu lado sessenta e três meses, vi mais coisas num homem do que queria, conheci mais amor do que podia querer, amei-te mais do que devia amar. Vi a maior apatia do mundo e habituei-me a ele. Vi o maior entusiasmo do mundo e sofri com ele. De ti vi mais do que alguém viu, de mim viste algo que nunca mais ninguém vai ver. Procuro-te em todos os homens para saber que não tenho mais, para ter a certeza que não te repito e para estar confiante de que o amor que recebo não é menor do que o que dou. Já li que se deve escolher um homem que nos ame mais do que nós a ele, mas há pouca gente a escrever como é que duas pessoas que não sabem amar, amam. Nós éramos um monte de planos furados, tentativas falhadas e perspectivas condenadas, mas juntos nós fazíamos planos, tentávamos que nem loucos e a perspectiva nunca devia ter sido esta, mas todos cometemos erros de cálculo e na minha vida, se há coisa que eu não esperava, era ter-te. O nosso erro foi este. Big, eu amei-te como nunca amei ninguém e nunca mais vou amar assim porque já não sei como se faz, se cada amor é uma pessoa ou se cada pessoa é um amor, não sei, existem coisas inexplicáveis no mundo e esta semana quando me perguntaram se eu voltaria para ti se assim pudesse e eu aguentei e disse que não, o que eu queria dizer era "não, porque tu não voltas para o amor da tua vida". 

1 comentário:

  1. Sempre que me deixas um comentário sinto que tenho um universo de carinho derramado pelas minhas páginas. Perdem-se-me as palavras quando preciso delas para te agradecer pelas coisas bonitas que me escreves. Os meus amores são meios porque desses amores, sou só metade. Foram inteiros um dia. E este teu amor soa-me tão inteiro. Tão pleno. Meios amores doem, mas amores inteiros às vezes matam. Onde quer que vás, espero que a mudança seja benéfica. Independentemente das casas que venhas a habitar, espero que haja sempre flores à entrada. E se, por ventura, um dia a saudade te trouxer de volta a esta casa, que mudes o papel de parede que te magoava o coração.

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