M.A.R.S


Talvez em todas as minhas mentiras haja mais verdade que nas tuas. A questão não é ler, é deixar que me leiam. Não merece castigo. E se for a que é dita, não precisa de ser lembrada. No entanto, nem com vinte litros de álcool eu deixo de ter a soar na minha cabeça a verdade que me disseram: "A tua dor é não sentir dor". Não é que seja obrigada a ouvir, nem obrigada a aceitar que me digam, mas teve que ser. É merecido. Fico nua. Fiquei nua. Em qualquer ocasião exponho a vossa verdade. A tua. A tua e a tua. "Tu não sentes. Se te fazem mal, ultrapassas. Se te fazem bem, esqueces. Não sofres. Não amas. Não te dói. Nada te dói e não sentir aquilo que os outros sentem tão comummente, magoa-te. A tua dor é a ausência da mesma". A igualdade de que nos falaram em crescimento deve ser esta. Eu poder ser lida no meu medo de existir na ausência de sentir, na fina certeza do que é pensar. Mais pequena que a do mundo inteiro, mais nossa porque sentimos tão paralelamente que as nossas diferenças são essas mesmas perpendicularidades de uma faca a trespassar-nos o peito. É estranho poder ser só o que és. Não ter que representar e não ter que ser nada a não ser a melhor versão de ti. Somos uma relação mutante. E onde as mudanças que sofremos nunca são particulares. Já nos falaram tanto em união, mas de facto a nossa comunhão não serve de exemplo a ninguém. A frieza que temos em esclarecer a definições da nossa maldade, da bondade que guardamos mutuamente. Já discutimos o passado, o nosso presente é um circulo tanto quanto somos um também, o que sentimos são réplicas do já sentimos, estamos velhos e impiedosamente a vida pede-nos que nada nos separe, correndo o risco de rasgar o peito se o fizermos. Duplas, triângulos. Somos os quatro cantos do mundo. Quatro elementos. De todos os nossos medos, os mesmos que partilhamos, os mesmos que sonhamos, os mesmos que são as nossas utopias, um a um, morrem neste grande amor. O nosso obscuro medo do escuro é este. Que finalmente estejamos a sentir e que agora seja imperativo saber fazê-lo. Todo o dia, todos os dias. 

2 comentários:

  1. Acho que disse tudo no comentário no grupo... Acertei?
    Não tens nada que agradecer. Eu só disse o que sinto. Um beijo enorme para ti também <3
    E sim, tenho o coração partido, tenho sempre, mas é como tu dizes, respiro fundo.

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