De loucos


Eu mato tudo em que toco, se é que podemos falar metaforicamente. Já chamei ao amor de suicídio demasiadas vezes. Acho que acabo por me perder nas mais intrínsecas vontades dos outros e perco as poucas que tenho. Quando não tenho vontade de nada e todo o desejo que sinto são personificações minhas em que quero querer. Este é um desses momentos em que não quero nada em concreto. Não sei se pela imprudência, felicidade ou demasiada apatia. Não tenho vontades minhas porque não quero que nada seja meu. Não quero ser senhora de ninguém e só me dou com espíritos sem vontade porque não corro o risco de que me queiram também. Mas isto não é de agora. Tu sabes do que eu gosto. Gosto do desprendimento e de tudo o que não conheço, gosto das falhas e das saudades. Gosto do desconhecido, do estranho, da excentricidade de viver sem nada. Da clareza de nada ter. Nem amor nem dinheiro. Nem sorte ao jogo embora muita vontade de jogar. Dos vícios. Da morte das coisas com que sonho. Acho que o mundo é tão mutante que eu tenho de o ser também porque se há coisa que gosto é do mundano, do vulgar, da beleza das ruas por onde passo todos os dias, da particularidade das pessoas que me rodeiam. Mas eu sou a mesma que disse que gosto do que não tenho nem conheço, não é? Pois não me ligues. Eu já matei muitas vezes o amor e continuo sem saber porquê. Se por falta de quem me ensinou a matar, se por nunca me terem ensinado a amar. Esta é uma das minhas loucuras. Não aceites nada de mim. Eu não sei o que quero. Só sei do que eu gosto. E se soubesses, sabes que te diria que já não és tu. São de todos, em todos, um pouco. 

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