Quando percebeste que a minha luz era lunar, sacudi-te a purpurina da cara, cheia de boas intenções, tentando não arranhar as mãos na tua barba, e suavemente em dois segundos tirei-te o brilho. Intencionalidades à parte, beijei-te a face e já era meia-noite enquanto te abraçava, apertando os meus pulmões contra os teus, e, por mais dois segundos, senti-te respirar. Ambos fingíamos estar apaixonados, não sei se um pelo outro, se pelo ego crescente. Éramos como a lua, cheia de fases e de amor estávamos em decrescente. A leve brisa do teu nariz rasgava-me os fios de cabelo preto e o negrume da minha alma aumentava com a tua pulsação. A única simbiose que tínhamos era em palavras mas permanecíamos em silêncio. Precisava de acabar esta tristeza, por isso fiz uma mochila. Para a minha bagagem. Com o coração cheio de tudo e vazia de ti, inspirei fundo, desfoquei o horizonte no meu olhar, vidrei nos teus gestos e repeti que não ficaria por muito tempo. A minha intenção era deixar-te. Nunca tive como objectivo que me amasses e acabou por ser um erro o encontro das nossas órbitas. Desalinhados no destino e na vida, ficamos cegos com a possibilidade mas analisando o batimento cardíaco da nossa união, nós já estamos mais do que mortos. E um morto nunca viu um cego assim como este também não sabe o que é morrer. "Pena que o amor seja tão cego", disseste-me ao ouvido. "Lamentável que eu não te ame", consolei-te.
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