Caos


Se podemos ainda tolerar a nossa condição para invariavelmente depender que gostem de nós ou não, na vida, não podemos mesmo é aceitar que quem gosta seja um factor de espera. Há tanto caos por aí. Não podemos também estar a espera do óbvio. E embora nos possamos agarrar a essa vontade de sermos adorados e embora possamos viver na ilusão de que agradamos, não devemos. Perdoem-me os meios amores, meias amizades, meios sonhos. Em todos os dias que nos dedicamos a algo novo, seja uma pessoa, um objectivo, seja o que for, sabemos que é uma queda livre. A questão está em perceber que não é livre na velocidade, que podemos controlar, é, sim, livre nas opções que tomamos, nos caminhos que escolhemos. Pessoalmente opto sempre pelo caos. Em tudo o que faço, em tudo o que digo, eu espero ver fogo. Espero que algo no mundo se revolte e tenho a convicção de que se nada se elevar, se nada for intenso, se pelo menos uma coisa não mudar, se não se colocarem dúvidas, não tenho lugar. A minha natureza é o caos, e por assim dizer sinto-me a fazer história porque nada nasce da paz de tudo correr bem. Mas o que não posso mesmo aguentar são esses meios. Ninguém devia aguentar meios termos. Ninguém devia esperar por porra nenhuma de nenhum amor ou amizade. Podemos todos saber que algures há quem nos queira falar, a outra metade do mundo tem provavelmente coisas para nos dizer, tanto como queremos ser ouvidos, mas então façam-se ouvir. É disso que falo. Do caos. Porque se a questão da liberdade é nas escolhas, então não sejamos hipócritas connosco mesmo, quem não nos fala não quer ser ouvido, quem não está connosco é porque não quer estar ou, então, não tem coragem para isso. Mas se é uma escolha deles ser covardes, então não pode ser uma escolha nossa partilhar caos com gente assim. Voltem-me a perdoar os meios termos, por não conseguir esperar que mudem. Eventualmente mudam. Eventualmente um dia ganham a gana suficiente para mandar tudo à merda. Mas isso não é um caos, isso são os teus segredos, os teus desejos a provocar desordem. Enganas-te se pensas que caos e desordem são a mesma coisa. Devias saber que caos significa "separar, ser amplo". Separar, dar ordem. E no meio de todas as mudanças, de todas as revoltas, ninguém devia querer menos que ter ordem na vida. Assim, não aceitem demonstrações tardias, muito menos aceitem a ausência delas, se esperarem todos os dias para que algo aconteça, o provável é que a vida vos passe a frente, mas se acham que eu digo isto porque deviam levantar-se e ir atrás, não vão atrás porra nenhuma porque "ninguém tem que ir atrás de ninguém, podemos caminhar todos lado a lado", então deixem-se disso, de amores esgotados, de amizades ingratas, de sonhos desfeitos. Há que provocar algum caos também naqueles que nunca souberam mudar e isso, sim, é amor, é vontade, é paixão: querer revolucionar o outro, os outros, o todo, depois de nos mudarmos a nós. 

2 comentários:

  1. Encontrei o teu blogue através do Facebook e gostei bastante do que li (e do que, certamente, continuarei a ler). Muitos parabéns!

    Convido-te, também, a visitares-me: www.primuspares.blogspot.pt.

    Até breve,

    DRdC

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    1. Obrigada Diogo :)
      Eu visitaria o teu blog com o maior gosto, mas é necessário convite e no caso eu tenho permissão negada. Espero que continues a visitar o Ilusórias Certezas. Beijinho

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