Calculista


Lembro-me quando me disseste que eu era fria. Quando me olhaste de frente e disseste que eu não tinha coração. Que tudo o que eu fazia ou dizia era minuciosamente calculado. Eu não confiava em ti porque sabia que não podias confiar em mim. E acabaste por concluir que era tudo isso, que não é nada, desde sempre. Quando acabaste de falar, tinhas as mãos a tremer e deste um murro no volante do teu carro. Respiras-te fundo e nunca mais olhaste para mim. Ainda bem. Ainda bem que nunca mais olhaste para mim, ainda bem que deixamos de falar, ainda bem que não tive oportunidade de te contar que nem sempre fui assim e que estavas esquecido que fui só aquilo que me pediste que fosse. Ainda bem que não me viste a chorar. Tu conheceste-me doce, todos os dias eu só queria ver-te sorrir e fazia questão de te fazer sentir especial, tu reconhecias que eu era a melhor a fazer-te sentir desejado. Disseste que eram as melhores manhãs da tua vida e que eu iria ser sempre única, não interessava quantas vezes nos separássemos e que ias sempre lembrar-te dos meus olhos porque o meu olhar fazia-te sentir em paz. Não te enganas-te. Eu calculava tudo. Tudo o que te dizia, escrevia, fazia. Só para te ter comigo. Eu nunca te menti quando disse o que era e nunca te escondi todos os meus defeitos, embora soubesse que podias confiar que eu nunca te ia magoar. Mas tu achas que sim. Que eu te magoei. De livre e espontânea vontade. E não, foste tu que me obrigas-te. Tu conseguiste partir-me o coração, até hoje, até sempre. Conseguiste fazer de mim isso tudo, fria, como tu resumiste. Porque acordas-te numa manhã e eu não consegui estar lá, porque noutra tarde não te elogiei e porque algures no meio de tudo isto não entendes-te que eu não podia esperar que fosses para mim metade do que eu era para ti e ficar feliz. E o meu erro desde que sempre foi não ter calculado isso. Calculei tudo, todas as mensagens, chamadas, surpresas, prendas, gestos, beijos, acções, menos a ti. Não calculei que me traísses, não calculei que me mentisses, e desde o primeiro dia não calculei me fosse apaixonar. Desde então, deixei de fazer cálculos e fiz-me daquilo que tu conheceste no último dia que estivemos juntos. E hoje tu ligaste-me só para saber se estava tudo bem, porque te lembras-te de nós às vezes, e eu percebi que foi bom ter-te na minha vida para agora saber que são de vozes doces e de confiança cega que se fazem estas histórias como a nossa. Calculo agora também que nunca mais vá ser a mesma.

3 comentários:

  1. penso que não seja mau ser calculista ..

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    1. Aquilo que se faz por amor está sempre acima do bem e do mal.

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  2. força querida* mudamos sempre perante essas situações, há sempre algo que nunca mais volta, há sempre algo que é essa pessoa leva de nós...

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