Quem és tu homem nu? Ode ao amor, manifesto à vida. Se eu nem sei se me lês, quanto mais se me ouves com vontade, quem és tu? És o que eu faço de ti nos dias em que não te quero dar a mão numa tarde de Inverno porque nós não duramos até à próxima estação. Quem és tu se eu nunca te desenhei, nunca te vi com luz natural? Quem és tu homem vestido da roupa dos outros? Se eu soubesse que não me lês, contava a verdade. Mas talvez tu sejas mais capaz de me ler nas entrelinhas do que eu capacitada para te escrever cartas sinceras. Não consigo não mentir. Não tenho mais imaginação para a realidade, não tenho ferramentas que permitam criar uma e outra vez esta história. É preciso que nos afastemos de todas as coisas que nos arrastam o espírito, nos dão vontade de dormir, nos fazem vestir cores para além de preto. - Meu amor, meu amor, meu amor. Uma merda de amor. - Despi-te de olhos suaves, de olhos brilhantes, de olhos além do essencial. Essencialmente porque és só tu. E eu não sei porque tu não sabes. Quem és, o que fazes, o que me dizes, o que te conto. - Foge, fogo, foge, fogo, miúda. Mata todos os gestos e afectos. Às seis da tarde, às seis da manhã, sê isenta e envia-lhe uma pergunta despojada de cobardia, de jogo, de pensamento. - Quem és tu agora? Que não sabes nada, que usas as minhas palavras, que me cortas a linha mesmo que eu não queira ser silêncio. Que não me conheces, que me julgas insuficiente, que me és limitado demais para ser estranho para mim. E podes até mudar a cada cinco minutos, até tornar os minutos relativos, mas quem és tu meu amor? És um bocadinho aqui, um bocado ali, um bocadinho de nada. Um lapso de memória, uma ausência, uma eventual falta fatal em dias maus, e és isso tudo, menos quando tenho que fingir entusiasmo quando partilho contigo o que não tem partilha possível porque à falta de entusiasmo, ligo os sentidos e um por um todos me dizem quem és tu. Um bocadinho menos, cada vez mais, um bocado do que não quero, um pedaço do que não posso ter, uma parte do que já não sei ser. Todos me dizem para fugir, eu já sei de trás para a frente e em reverso igualmente os muros, as limitações, os sentidos proibidos. É uma pena, sabes? - Claro que sabes. - E não me interessa realmente quem és tu, nu ou não, vestido com a roupa dos outros, ou como os outros, ou de ti ou para ti, porque na verdade, na verdade, isto é uma merda e eu só quero ir, ir, ir, ir, ir, fazer, fazer, fazer, fazer, sonhar, sonhar, sonhar, e nunca, nunca, saber quem és e saber quem sou. Hoje é um dia mau. Pareces-me igual a todos os outros, já não sei, não sei, nunca soube, quem és. Estou enganada e não é a teu respeito, estou enganada porque estou apaixonada. Porque como já te escrevi uma vez, e nunca te disse, não sabes... ser. Tu. De ti. (Ainda). Muito menos meu amor. Calma, muito menos. Quando toco nunca estou quando falo não penso que quando penso sempre sinto e quando sinto sou.
és uma musa, só isto!!
ResponderEliminarUm dos melhores textos blogosféricos que alguma vez li. Extasiante.
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