Hoje e há uns quantos dias que não sei contar porque acordo de noite e sonho de dia, padeço de um nojo de ti. De um claro afastamento de tudo aquilo que possuas de bom, como se claramente te pusesse um pano negro em cima, cruzado com a minha visão periférica e longínqua de ti. O afastamento. A distância. O discernimento pela razão que nos dá o tempo. A canalização de todos os meus pensamentos para resolver as minhas memórias de ti. São poucas, ou porque não me lembro do teu cheiro, ou porque não sei o tom da tua voz sem ser no meio de uma multidão que rondas a procura do que não tens nem nunca terás, pessoa, ou porque dispenso enfrentar tamanha estupidez. Estupidez, com as letras todas, o sentido completo, o sabor amargo sem reversos e prós. Dispensava no mesmo automatismo da vida que estivesses na minha. Estás seco, fazes parte do todo dos outros, não me dás propósito nem sentidos. Dás-me náuseas, uma revolta no estômago que tendo a confundir com paixão, não me serves para absolutamente nada que já alguém não tenha servido. És cheio de lições de moral vazias, falsas demagogias, utopias sem carne e a tua carne não tem calor. Estás morto, acho que estás morto e fujo de ti como quem foge da vontade de viver. Ensinaste-me a sentir falsamente. A sentir carinho por algo que não gosto, a cultivar a raiva em gestos de amizade, a odiar o que és por me roubares a imagem que tinha de ti. És ladrão de ti mesmo. Das tuas capacidades, que tornas fracas, da tua personalidade, que tornas vulgar, da tua pessoa que desencanta e só sabe desencantar. Já sabia que não gostava de incoerência, contigo aprendi que detesto pessoas que fingem saber sonhar. Isso foi o que mais me magoou em ti, a tua falta de visão, quando no entanto me fizeste acreditar que sabias ver. Hoje e há uns quantos dias gostava de te dizer que estás morto e vou ter sempre saudades de ti e de mim antes de teres morrido. Decomponho-te a alma, a pessoa, os segredos enquanto me vejo claramente a mim, nunca estive realmente contigo e nunca vou querer estar, ao contrário do que eu imaginava. E tenho tanta pena que não saiba só imaginar, porque tenho que te fazer ver que este ódio de ti é meu.
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