Estupidez


Não sei quando é que percebo. Estou a cinco minutos de te apanhar e tu foges. Divides os pedaços de ti em partes mais ínfimas ainda, à espera que eu saiba decifrar o que tu és, mas eu nem sei o que sou. Encontro-me sempre nos outros mas quando converso contigo só fico com mais dúvidas de se isto que eu vivo é realmente uma vida. És tu que me mostras o lado negro da lua. É sobre ti que falo quando descrevo um lado lunar numa noite escura com as drogas de amor. As viagens todas e os comboios sem fim, os três e oito com que escrevo o teu nome e tu vês sempre as minhas costas, às vezes em curva, outras vezes só longe. Recordo uma noite em que me estou a rir, deitada desconfortavelmente na cama, tantas vezes a olhar para ti por entre palavras ao lado e discursos vulgares sobre a ordem do mundo, que me esqueço de ver o quanto consegues ser bonito por entre o bigode desalinhado e os olhos fugitivos. Não te acho piada, nunca achei verdadeiramente, gostava de ser sincera nesse aspecto, mas sabes fluir conversas que me tocam na vontade de falar e eu nunca desejo exprimir a minha alma. Talvez por teres percebido tão bem a deslocação do meu espírito, do corpo que abandono e das casas que não tenho, consegues falar para o meu lado obscuro em discurso directo. Não faria mal por ti e percebo-te minimamente, mas perfeitamente não consigo entender qual é este meu mal desresponsabilizador, esta doença reflectida em ti, esta vontade de ser todos os lados de mim publicamente. Não sei quando é que percebo que isto não me leva a lugar nenhum, a não ser escrever. E desabituei-me de viver no papel porque já não gosto do que é palpável. Estou a cinco minutos de te perder e tu vens. Afinal,"como é que podes gostar de um homem que não te fode?". 

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