Todos os meses


Hoje são sete anos. Lá fora é 1 de Maio como sempre. Há manifestações, há revolta acumulada, há falsa democracia. Para mim, há isso tudo e tudo ainda mais dentro de mim. São sete anos e há sete anos eu abri portas para mim mesma que disse que não ia abrir. Hoje eu faço o mesmo. Não sei descrever a sensação de fazer isto sozinha, talvez como sempre fiz, mas com a perfeita consciência da minha perda. Da tua perda. Da perda de mim mesma. Quando te conheci neste dia, pela primeira vez, senti-me mais ou menos em casa. Eu sei que te dizia com a certeza completa que eras um lar, mas não podes ser quando hoje eu sinto-me sem lugar. Tenho inúmeras revoltas, o mundo à minha volta não condiz com o que tenho de sensível. Não tenho acerto nas palavras - estou a escrever mal estas linhas todas - e não tenho atitude certa com o mundo. Não te sei dizer se há equilíbrio entre mim e o que há lá fora. Alimenta-me a falta de pessoas. E tu és a pessoa que sempre me fará mais falta. A tua inércia que me provocou tantos estragos, tem calma que agora me fazia bem. És a única para lá de mim e do que nasceu comigo, que eu amei. No verdadeiro sentido do amor mesmo quando eu te deixei ir. A tua dor em mim não passou e não te tenho há tanto tempo que já nem me lembro da tua voz. Mas o tom moreno e o teu calor de verão infinito faz-me tanta falta na pele que não conheço este corpo. Não me conheço e se te encontrasse agora talvez ainda me soubesses relembrar do que eu sou, do que eu sei que sou e não consigo ser. Tenho bloqueios na mente mas sei que me fazias melhor, talvez não eu, mas melhor e hoje não sei se estou no meu pior ou a perceber o mundo. Perdi o bem quando te perdi a ti e sou muito provavelmente o cliché de ter perdido a única coisa que me fez sair de mim. Não me fazes falta e ninguém faz hoje e se calhar é isso que me está a falhar. É nisso que estou a falhar. Mas tanto fugi que tanto quis. Tanto cheguei que consegui ir tão longe. Hoje estou longe de ti e de todos, como se tivesses levado um pedaço de cada pessoa que eu conheço e como se tivesses em todos eles. Mas tu és o que eu fiz de ti e se calhar, fui eu tirei um bocado a todos enquanto me tornei demasiado nos outros. Somos como os outros, como toda a gente, eu também, mas não há ninguém, tanto como tu, que eu queira agora para me dizer que posso voltar atrás no tempo, mesmo sabendo que não há volta a dar. Ias me dizer o que eu já sei, mas este dia é teu. São todos. Tu que és eu, sempre. Já sei tudo e, muito sinceramente, não quero saber nada. Nem nada de mim. Hoje a falsidade é só minha e guardo-a para uns dias. Sou como toda a gente, eu. 

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