Não te sei gritar


Eu encosto a cabeça no meu sufoco, na cabeceira da minha cama, e sinto as lágrimas no meu pescoço, que me incomodam, que me prendem a pele e deixo-as estar. Todos os esforços que faço são nulos, nada haverá que me possa prender. Esta falsa cumplicidade, esta hipócrita confiança nos outros. Não sei de onde vem esta dor, que dura sempre, não me consigo abstrair do eco, sinto tudo como se fosse roubar de mim mesma. E nada me atravessa. Estou a ficar doida com esta minha sensibilidade. Expulso a dor e não quero sentir porque não sei sentir pouco quando não sinto nada. Não sou, nunca fui, nunca serei, feliz aqui. Tenho anos presos de não pertencer a este lugar e todas as pessoas que passaram por mim fizeram-no por fazer. Eu quero parar. Quero saber como é quando alguém se sente em casa mas duvido que tenha uma. Porque é que as pessoas ficam umas com as outras? Porque é que as pessoas têm outras pessoas? Onde é que isso é amor? Onde é que amor pode transformar-se em palavras, quando as palavras só servem para magoar? Tenho uma inércia que me pesa o corpo tão grande que se tornou na força gravitacional dos meus sonhos. O que entendo por universo estendeu-se tanto que sonho com a lua e nos meus sonhos a dormir tenho pesadelos sempre a fugir de alguém que eu nem sei quem é. Alguma ideia quer que eu fique aqui e eu não fico. Fico rebelde perante o meu espelho. A minha dor é sozinha e não posso contar a ninguém que sei sentir, porque ninguém sabe o que é sentir nada e sentir tudo. Ninguém sabe como é querer ser e não querer parecer. E eu dava as minhas vontades por poder contar isto a alguém que me percebesse. A felicidade e os desgostos são tão fáceis para os outros que choram e se manifestam em público, cheios de gritos, dores e tristezas. Para mim, que nunca expresso a expressão de querer fraquejar torna-se tudo uma asfixia. Onde é que deixo a força, os desejos, o querer saber? Onde é que paro? Quero ser como vocês todos e no entanto não vos quero para nada porque nada do que me dão, me serve. Sinto falta do inebriante sentido de limbo. Da revolta das coisas por fazer. Os meus conflitos são velhos e tomam a cada dia um sentido novo. Sinto-me sem travão, pronta a arruinar tudo, pronta a mandar tudo e todos embora, como se o meu processo de despedida tivesse agora começado. E não há ninguém que me pare. Não quero ouvir ninguém, ninguém me é sincero o suficiente. Estou para lá do egoísmo, do egocentrismo. Já nada me toca, já não me incomoda o que faço aos outros. A minha dor na falta de dor, voltou. E a única que não tem regresso sou eu porque não existe passado, nunca existiu. E tudo o que demais existe sou eu, a minha genialidade, e esta vontade de sair daqui. Preciso de parar. Preciso que me parem. Mas como sempre, não. Não vai deixar de ser assim.

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