Trata-me bem


És a maior mentira da minha vida e toda a gente acha que eu te amo. Incondicionalmente, que serás sempre o homem da minha vida. Podem não estar muito longe da realidade mas, se assim é, estou muito longe de me deixar ficar por ti. Se há coisa que sempre me ouviste dizer foi que gostava pouco de me fiar em frases feitas. Até numa noite, num jantar qualquer, enquanto fumávamos, no pátio do restaurante a que costumávamos ir, disseste que o teu desafio era conhecer-me, já que não havia definição correcta para mim. Dissecas-te a certeza que tinhas de ter em compreender o que eu pensava. Dizias que só podia ser burro quem não reparasse no olhar que eu tinha para as pessoas comuns na minha vida. Negro, achavas tu. Eu admirava-te o esforço, de facto, e tinha até uma certa esperança que no fundo partilhássemos o mais peculiar que tínhamos dentro de nós, mas eu e tu não partilhávamos nada e se tivemos algo, foi muito exterior. Sabias ler-me as entrelinhas, é verdade, mas nunca soubeste as minhas razões e por mais que eu te tentasse explicar o quanto me confundia nas coisas que fazia, tu achavas que eu era muito segura de mim. Colocas-te o teu mundo nas minhas mãos e eu, para surpresa unicamente tua, fiz questão de o esmagar. Nunca me conheceste e, tens razão, eu nunca deixei. A subestimação sempre me assustou e tu tinhas uma tendência descomunal para achar que eu tinha só mau feitio. Eras feito de esforços nulos, de esperar que te caiasse algo nas mãos e talvez porque não suportasses os teus próprios dias, mentiste em tudo o que eras. Proposseste-me um homem que não existia e eu propus-me a viver a tua ilusão. Em tudo que fazes e em tudo o que és, és somente isso. Um fantoche. E concluindo que somos substancialmente incompatíveis, impossíveis de dar certo, não me venhas agora com merdas de desafios pessoais. Eu não posso entrar em ciclos, já tenho os meus, mas tu és masoquista, é isso que eu gosto em ti. Tenho tanta pena que nos tenhamos cruzado. E tenho ainda mais pena que não cumpras a promessa de não me querer mais. Mas tu pedes e eu trato de ti.

2 comentários:

  1. Porque é que és tão intensa na escrita que me fazes (quase) sentir na pele estas tuas emoções? A parte disso, és maravilhosa!

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