Escrever-te palavras vazias é complicado
porque não me evito a pensar que as devias ler. Talvez eu devesse avisar-te,
mas ainda mais simplesmente talvez devesses ler porque nunca tive oportunidade
de te dizer aquilo que me abafa o peito. Não há coisa pior no mundo do que não
resolver. Os homens lêem livros de mistério porque é a vida dos outros. Se
entender que o melhor lugar para ficar é em nós mesmos em primeiro lugar já é
complicado, imagina como é que eu vou convencer-me que me deixei ficar noutro
sítio. Em ti. Mas amar-te agora não faz sentido nenhum. Eu amo-te mas não faz
sentido nenhum. Não é algo que queira, não é algo de que me orgulhe, não é algo
que me faça feliz, por isso o mais provável é que eu esteja a tornar isto num
cliché de te amar. Ou não, porque ainda assim amo-te com a pureza de quem ama o
que não tem, se é que isso é amor. Não, não é burrice minha querer que sejas mais feliz do que serias
comigo. Quando disseste que eu era a tua sorte, acho que nem tu sabias que em
facto se há coisa que eu te desejo e irei desejar sempre é um mundo bom, mesmo que me custe. Mas sabes
que é tão estranho não me lembrar da primeira vez que te vi e a primeira
recordação que tenho tua é coincidente com a primeira vez que fumei. Nessa
noite foi a primeira vez que me perguntaram o que era feito de mim, se eu me
tinha perdido mas não pude estar completamente atenta porque foi também a noite
em que cheia de frio te pedi uma camisola. Cheia de frio ou cheia de vontade.
Não é que eu gostasse de ti, repeti para mim mil vezes, e no fundo sem saber
desde o primeiro dia que eu tento arranjar desculpas para não gostar de ti. A
tua camisola era enorme e quente e posso jurar que tem tanto de ti que
parece que foi feita para tu usares, talvez porque me senti acolhida tanto como
me sentia abraçada por ti. No mais ínfimo pedaço da minha alma sempre que
estive contigo e muito mais agora que não estou. E acho que o meu peito sabe
que estás bem, estejas onde estiveres porque a certa altura permiti-me a fundir
conhecimentos contigo e os meus pressentimentos moram cá todos. Usaste essa
camisola tantas vezes de tantas que estivemos juntos e em qualquer lugar do mundo
eu acho que a reconheceria como sendo um abrigo ou a esses locais aos quais não tenciono voltar. Custa-me admitir que não vou voltar mas tenho leveza para saber que
nem é o correcto. Tu e eu fomos feitos para estar juntos tanto como tudo e
nada. Porque tudo e nada é o que fomos, é o que somos, é o que seremos. Tenho
vagas ideias disso, do que fiz enquanto vestia a tua pele e os teus lençóis e
pouco mais tenho de lembrança de tantas noites em que trocamos olhares, em que
me perdi em ti à medida que me fui afastando de mim, mas ainda me lembro também
da nossa primeira conversa sobre nada de especial. Sobre regras daquilo que
muito nos impediu. Sobre nada que te possa contar em pormenor, porque eram dias
onde apenas o álcool era meu amigo. Depois o fumo. Não sei se posso chamar
conversas ao que tínhamos porque eu arrisco a dizer que nem metade do que me
disseste meses e meses eu ouvi. Sempre te achei fruto da minha ilusão, da festa
que andava a minha vida e a certa altura deixei de te ouvir. Foi por isso que
me expressei muitas vezes em músicas e deve ser por isso que a única que eu
sabia fazer era beijar-te. Acho que em meio de tanto vício só podia conhecer
alguém como tu e se achas que estou a sugerir alguma coisa enganas-te, porque
apenas alguém como tu me podia dar tanto veneno a provar. Tanto remédio para as
minhas dores antigas e tanta doença a seguir. Não como tu, como eu, aliás.
Tinhas tanto de parecido comigo e eu nunca te quis confiar disso, porque éramos iguais mas eu achava que éramos diferentes, nunca quis que soubesses porque
achava que dar-me a conhecer era um erro e nunca te cheguei a contar que
realmente te amava e que essa era a minha única certeza no meio das dúvidas
todas que me podia colocar, mas que infelizmente ensinaram-me a não o fazer. Não
te sei explicar como é que se coloca uma pedra no lugar do coração. Nem sei o
que pensar de mim tendo essa capacidade vil de o fazer às vezes. Quando me
despedi de ti por exemplo. Mas não penses que é fácil querer amar e não ter
meios e pensa também que quando finalmente os arranjei, sim porque houve um dia
em que acordei disposta a gritar para o mundo inteiro que queria ser só tua,
roubaram-me. Não, não foste tu que me roubaste, o teu papel foi só mesmo dar-me
fogo que combustível sempre tive eu nas veias, o meu balde de água fria foi
outro e acho que ainda é. Podia contar-te disso, da merda toda que me disseram,
e sim podes condenar-me por ouvir mas imagina que meio mundo estava contra eu
te amar, imagina só. Não te posso contar, vou ter sempre um nó, não por isso
mas porque queria que houvesse mais verdade na tua vida. Que as pessoas à tua
volta te quisessem tanto bem como eu. Mas quando fui eu uma das pessoas que te
menti e pus tanta coisa a tua frente, então não me resta muita alternativa. E
acho que a questão aqui é que sempre tiveste muitas alternativas e até que me
ponto me amavas no meio das escolhas que podias fazer, foi isso que me levou a
deixar-te sem olhar e sem querer voltar. Sei que pareceu muitas vezes que eu
quis viver tudo outra vez, mas ainda bem que não o levamos em frente porque a
minha natureza é de ser uma cabra mil vezes pior. Merda mas eu era doce contigo
e porra isto não tinha mesmo ponta por onde se lhe pegasse. É que nem eu nem tu
sabemos o que andamos a fazer afinal. Amar é fodido, mas amar assim devia ser
proibido. Encontrarem-se duas pessoas assim – sim porque eu não te encontrei em
melhor estado do que aquilo que tu descobriste em mim – deve ser a puta da vida
a brincar. E lá estou a eu a mandar para o ar outra vez, é que é mesmo
complicado não te resolver, mas mal tu sabes que isto sou eu a resolver-me. Mal
tu sabes de mim. Eu perdi-te, mas tu também não sabes como é que te fugi.
Encontramos o errado, nós éramos um erro, desde o primeiro dia sabíamos que não
ia dar certo mas a gente insistiu porque ia ser bom. E juro-te que nunca soube
nada de ti. Nunca. Enfim, tornei-me eu na leitora do teu livro de mistério. Só
que eu gosto e sempre gostei de ser eu a escrever. Por isso,"a mim passou-me ao lado".
Gostei muito! (:
ResponderEliminargostei bastante *-*
ResponderEliminarÉs linda, chavalinha. Tenho um orgulho gigante e esquisito em ti.
ResponderEliminarSobrenatural é todo esse carinho que me deixaste no blog. muito obrigada, mesmo! fico mesmo feliz por saber que gostaste assim tanto do que encontraste por lá - mais uma razão para sorrir hoje :)
ResponderEliminar"Mas amar-te agora não faz sentido nenhum. Eu amo-te mas não faz sentido nenhum". Amar nunca faz sentido. Pode ser loucura ou estado de graça, mas nunca faz sentido. É assim que sabemos que é amor.
Beijinho e obrigada por passares pelo meu blog :)
muito obrigada, Raquel!
ResponderEliminare devo dizer que me encanta perder-me por aqui, adoro!
Não tens que agradecer :)
ResponderEliminarMuito obrigada :')
Beijinhos*
Raquel, talvez um dia ele leia um livro de mistério onde a protagonista és tu. Talvez aí ele entenda tudo aquilo que sentes. Tudo aquilo que vives. Amar nunca é errado. Só há momentos que tornam tudo complicado.
ResponderEliminarsabes bem que este foi dos melhores que li teus. ainda para mais com o significado que tem. e com a raiva com que o escreveste.
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