Trinta e oito


Não ver a verdadeira pele dos meus dias levou-me a sítios de mim que eu não conheço. Não estou a reviver, eu sei, mas o sabor na minha língua é o mesmo nada. O nada que sinto em cada cigarro que fumo. O mesmo nada que deixei de beber. Quantas palavras não te posso dizer multiplicadas pelas noites que te vejo escondida. Mas os dias sem ti ficaram mais leves e sempre que respiro sinto-me a caminhar em todas as direcções que isto não pode ser um circulo. Tu quando foste nunca pensaste em voltar e ninguém ainda se arrependeu disso. Não ter mais tempo contigo levou-me a insónias incontroláveis. Quantas músicas ouço a ecoar o teu nome. E quantos nomes repito para não dizer o teu. Não te posso contar. E se pudesse não tinha palavras para ti. Sinto-te a sentir. Sinto-me mais que antes. Trinta e oitos vezes se fores importante. Nunca trazes nada que eu possa explicar. Eu nunca te vou poder decifrar e esta é a ideia que penso quarenta vezes, a tua imagem na minha cabeça. O teu cheiro a tabaco. O teu lábio inferior mais grosso que o outro. A tua pele vai ser sempre o meu lençol favorito. Quantas vezes te vou repetir? Nenhuma. Nem uma. Não te ter não me levou a lugar nenhum. Tu mudaste os meus dias. Milhares de vezes olho para o céu e vejo-o mais azul. Outras tantas sinto mais o vento. Como é que eu poderia não te agradecer por me mostrares o mundo pelos teus olhos mesmo que reconheça que não vês o mesmo que eu? E ardo a medida que tudo isto passa com medo que tu me fuja das mãos e a tua memória seja só mais uma história para contar. E depois esta sensação de me estar a matar aos poucos por insistir nisto. Mas procurei-te. Um dia. Cem. Talvez um dia ainda te encontre e perceba que não havia razão para guerra. E guarde a esperança e a confiança para trinta e oito vezes viver outro lugar. Mais longe. Mais meu. Porque não ser a verdadeira pele de ti trouxe-me aqui. A lugar nenhum. E a todos os lugares.

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