Nunca vais ser doce


Princesa, foi contigo que aprendi a gostar de bolachas maria, quando vinhas para a minha casa horas a fio e ficávamos debaixo do meu coberto velhinho. Com café, forte, comíamos os pacotes que houvesse e de manhã fazia-te sempre torradas com o mesmo amor que te dei a noite toda em beijos e corpo. Apetece-me estar outra vez naquela casa que alugas-te para nós e onde senti que me amaste pela última vez. Éramos mesmo os melhores amigos, riamos tanto. Eu gostava de subir tudo o que houvesse para escalar contigo sempre a gritar o meu nome e a dizeres "espera, eu vou ver primeiro". Eu nunca tive a noção do perigo. Em nada. Às vezes apetece-me experimentar tudo e outra vezes tenho medo. Como contigo quando te experimentei, como agora que não estás aqui para me dar chocolates. Lembras-te dos estalos que te davas, dos beliscões que me davas a mim? Aposto que sim. Nós estávamos sempre à luta, mesmo quando não estávamos a discutir. Nunca pensei que depois fossemos mesmo abrir uma guerra, mas antes disso nós acabávamos sempre a fazer amor. Em todo o lado. Era assim que nos entendíamos já que não havia muito para conversar. Nunca leste os mesmos livros que eu e nunca quiseste saber como andava o mundo. Não tinhas opinião sobre nada e eu tinha sobre tudo. Mas os meus amigos adoravam-te, não entendo. Todos ficaram tristes por termos deixado de ser felizes. Eles adorariam qualquer pessoa porque são pessoas doces, mas de ti gostavam mesmo. Ainda hoje eles me perguntam por ti e é tão estranho, mas como antes, não tenho muito para dizer sobre ti. Nós sempre fomos feitos de silêncio, a todas as horas. Uma vez disseste-me que eu sonhava pelos dois e que um dia me recompensavas com um grande discurso. Eu sei que apesar de tudo e apesar de saberes que eu sou assim sem lugar para estar, tinhas grandes planos. Quem me dera que também tivesses a força para me domar. Com a mesma vontade que me fazias pequenos-almoços e perguntavas o que queria fazer naquele dia. Contigo ia a tantos e tantos lugares. Uma vez olhei para uma montanha e disse que gostava mesmo de ir lá acima e tu levaste-me. Foi complicado encontrar o caminho mas chegamos. Não foi como nós fomos para nós mesmos, mas tu fizeste um esforço nessa altura. Eu achava piada a tudo lá, às flores principalmente e tu dizias que querias voltar para fazer piqueniques, mas nunca mais voltamos. Nem às cascatas. Nem aos rios. Nem ao mar. Um dia até te salvei do mar. Tantas vezes te salvei e nunca me salvaste realmente de nada, nem de mim, nem deles. E quando me magoaste tanto durante um ano inteiro, nunca te perguntaste sobre as promessas que fizeste mas eu adorava ver-te mentir. Agora até sorrio ao imaginar a minha inocência e como a perdi para nada. Deixei de olhar para as flores, deixei de subir montanhas, os sítios onde vou têm que ser o mais longe possível para não te sentir e a única coisa que guardei de ti foi o hábito parvo de beber leite antes de ir dormir. Hoje até falei contigo sem saudade e disse-te mesmo que não aguentava mais ter-te na minha vida. A minha memória de nós é doce, como podes ver, mas o que tu me fizeste sentir é que não, Rainha.

2 comentários:

  1. Acredito mesmo que sim! Mal posso esperar para fazer uma viagem a dois, deve ser mesmo das melhores coisas :)

    ResponderEliminar
  2. não há palavras, obrigada por tudo, meu Deus, fiquei comovida :')
    o meu blog anda meio escondido da blogsfera ehehe mas também não conhecia o teu. pelos vistos vou ter imensas coisinhas para ler nos próximos tempos

    ResponderEliminar

Lovers