Nem sempre é paz


Tu cansas-me. Já tentei entender tudo, como chegamos até aqui, como é que tudo é tão bonito e como é que tudo consegue ser tão calmo quando eu tenho tanto e tanto oxigénio aqui dentro preso quando me prendes a respiração com as tuas palavras, com o teu toque, com o teu olhar escuro, com a tua doçura. Todos os dias me arrependo. Dos meus passos, da maneira como te olho, especialmente da como te vejo. Eu tenho a ideia de estar a viver uma fuga tua. De mim. Um daqueles sextos sentidos que quebras com vinte palavras, está cada vez maior. Quando me dizem que tenha calma, há uma voz que me diz que não. Que não é assim. Que não devia ser cega. E tu sabes que é ela quem tem a razão. Sabes que me vais magoar com todas as letras e com toda a certeza, a única que não tens para tudo o que eu sou porque não me consegues decifrar igualmente como não te consigo a ti. E ambos sabemos como isto acaba. Com uma manhã em que desapareces e uma noite que me fazes chorar depois de quatro copos. E tenho tantas saudades de quando não te conhecia, nem a ninguém, e agora só não me conheço a mim. Eu costumava ser segura e ter a certeza do que queria e única coisa com que fiquei foi esta vontade de tudo. Não, não me perdi. Ainda tenho um mundo inteiro dentro de mim. Mas aquilo que eu mais queria agora era que este formigueiro me passasse, este de quando não me consigo concentrar e este de quando tenho a certeza que me enganas em todas as dimensões do que és. Eu não confio em ti e talvez nunca o vá fazer, mas gosto de ti em cada pedaço do que me mostras. E agora sentada aqui, onde poderias estar, tenho a certeza que me estou a deixar ir para um caminho sem volta. E tenho saudades, não de ti nem de nada, só do que poderíamos ser. Eu não consigo aceitar, nunca o vou fazer verdadeiramente, goste de ti o quanto eu gostar e é por isso que nunca te vou contar a verdade tal como ela é. Podem saber todos menos tu. Este gostar custa-me os dias, as noites, as tardes, as conversas, os pensamentos, a paz que tanto vai como vem. Sim, se eu pudesse eu não gostaria de ti e nunca foi a minha intenção, mas ainda que não possa ter escolhido gostar de ti, posso escolher não o fazer na prática. Não porque tu me cansas, mas porque nós sabemos que nunca me poderás deitar e proteger de todas às vezes que eu precisar. Não é o que tu és. És? - (Dos rascunhos que nunca cheguei a publicar). 

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