Não contes a ninguém


Liguei-te para dizer que estava com saudades tuas. Desliguei logo a seguir. Peguei no telemóvel outra vez para dizer que sinto a falta da tua voz. Que queria ouvir por ela a verdade. Não consegui. Tentei. Tentei escrever-te algo bonito, só me saiam frases estreitas, por isso sentei-me e tentei ficar calma. Não sentia isto à muito tempo, começou a arder-me o estômago, depois os olhos tanto como tinha o peito colado nas minhas mãos frias. Estava gelada. Cheia de calor, mas gelada. Estava aterrada com o que me passou pela cabeça, não suporto saber. Agora mesmo tentei escrever-te uma mensagem, não deu. Não lembra a ninguém falar-te disto a estas horas ou mesmo por este meio. Não me cabe na cabeça. Não  me apetece também. Acabo sempre por lutar contra mim e acho que sei de cor o som das mil mensagens que já me mandaste. Nunca te consigo responder com carinho porque estou aqui a tentar manter-me de pé. Quem me dera que me abraçasses agora mesmo. Mas, espera, não fujas de mim. Enquanto estás aí não vás e mesmo que o faças, espera só uns minutos, por favor. Tenho mesmo estas coisas para te dizer e queria mesmo dizê-lo pessoalmente mas não me sai nada, estou apavorada. Sabes disseram-me que era normal porque da maneira como me conheciam eu nunca tinha sentido nada assim. É verdade. Assim não. Sabes como eu gosto de ti é como estar nas nuvens, não te sei explicar. Já te sentiste parvo e a sorrir sem razão muitas vezes se calhar, mas esta é a minha primeira vez. Sabes como eu gosto de ti é como voltar a mim vezes sem conta e nunca me conhecer ou como uma grande viagem ou uma enorme aventura. Sabe tão bem encontrar-te ao final de dias e dias a caminhar. Eu gosto de ti como de ir à praia no inverno, como de ver filmes, como de ouvir música clássica, como ficar na janela do meu quarto a ver a trovoada mesmo cheia de medo, como escrever cartas sem destino, como colocar perfume, como ficar mil horas no banho. Sabes aquelas coisas boas todas que tu fazes e te sabem mesmo bem? Quando estou a fazer as minhas gostava de te contar e ver-te rir por eu ser tão simples. Eu gosto de ti quando vou dormir e imagino-te comigo e gosto de ti quando sorriu e imagino que talvez te pudesses apaixonar pela forma como eu o faço de olhos fechados. Eu gosto tanto de ti como gostava de ter aqui para me ouvires. Ouvires que eu não tenho nada para te dizer porque não há nada que eu consiga contar-te que já não tenhas ouvido antes mas que ainda assim eu gostava de ter uma história contigo. Não tens noção como eu gosto de ti e nem sequer é gostar. E era isso que eu te queria dizer, que nem sequer é gostar. Liguei-te mas desliguei, mas liguei-te para te dizer que sim, que eu te amo.

8 comentários:

  1. Existem amores que nos tiram a razão e mostram outra forma de ver o amor. São essas formas que dão sentido à vida. Há coisas que nunca deveriam ficar caladas e um "amo-te" verdadeiro é uma delas :)

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  2. Tanto amor e tanta tristeza, simultaneamente. Espero que as vossas caminhadas passem a ser na direção um do outro. Coragem, Raquel. Beijinho

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  3. Estás numa situação tão parecida à minha que parece que fui eu que escrevi este texto. Adorei identificar-me com alguém na mesma situação que eu porque muita gente dá opiniões mas não sabem o que dizem, porque não estão a sentir o mesmo que eu.

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  4. maravilhoso, sem dúvida alguma!

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  5. Sem tirar nem por, respondo-te da mesma maneira: "tal e qual". Todos as pelavras que aqui disseste sinto-as a cada bater da noite. Mas eu nem tento sequer ligar, nem mandar mensagem porque não consigo nem sequer tentar. É díficil viver um amor assim, que tanto gostamos de gostar.

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  6. r: bem verdade, por vezes, é difícil mas tem mesmo que ser... Força!

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  7. Adoro o teu blog, a maneira como escreves é fantástica! Os meus sinceros parabéns!

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