All I wanted was to break your walls


Um dia disseram-me que tinhas morrido. Tinha acabado de fazer a cama e desfiz-la em lágrimas. Uma e outra vez esfreguei os olhos para evitar mas tu foste mesmo embora e o meu coração está duro. Deixei de ter sangue a correr-me nas veias e senti o pior frio do Inverno. Tentei respirar fundo e as minhas pernas caíram, mas eu não cai com elas. Fiquei naquele momento parada. O tempo nunca mais correu e só ouvia a voz ao telefone. A voz que nunca mais ia ouvir. De todos, de cada um, a tua morte custou-me a minha alma. Aquela que sonhava ficou para lá estupefacta por nunca mais te poder ver. Não iria ver-te a ser enterrado e não sei porque foste naquele avião sem o meu beijo.
Dói-me. Ainda dói. Sempre que vejo as tuas fotografias não sinto nada, mas quando vejo as minhas parte-me o coração. Se visses o meu sorriso agora irias querer ter guardado aqueles para sempre. Espero que me tenhas visto com esses olhos doces. Estou a sentir a garganta a arder e sei que vou chorar cada vez que virar a página deste diário. Todas as linhas vão custar-me e por muito tempo que passe, todos os dias sinto o mesmo dentro de mim. Não podias ter ido embora sem despedida, eras o amor da minha vida. Nunca mais te beijei, nunca mais te abracei, nunca mais me deitei no teu peito e nem foi preciso que morresses, então porquê? Foste um covarde, prometeste que iria primeiro que tu ou que morríamos juntos e agora dói-me para sempre. Dói-me as mãos sem a tua pele, dói-me os olhos sem os teus lábios, dói-me tudo sem o teu calor. Eu mal ando, mal sonho, mal tenho sensações, tenho medo. Se começar a chorar outra vez por ti, acho que nunca mais vou parar. Se me doer outra vez assim alguém, vou ficar de olhos pálidos. A vida que me tiras-te fui eu que te dei em todos os segundos antes que sequer fosses importante assim. Dei-te em conversas, em noites e depois em dias. Dei-te em todas as estações, dei-te em promessas e tu deste-me em sonhos. Mas agora não sei sonhar e os meus pesadelos são só escuros e ao som da tua voz. Que não é doce nem grave, não é nada a não ser saudade.
Não, nunca devias ter morrido, mas lembrei-me hoje que fui eu que te quis matar. Mas não, tu nem isso deixas-te. E por isso sofro de orgulho também e de arrependimento de todos os passos que dei em direcção a ti. E embora seja para sempre, hoje levanto-me a recordar mas sigo em frente. Comprei uma cama nova e não voltarei a cair sobre nenhuma chamada ou conversa. Tu morreste, não há ninguém que tenha o teu lugar e por muito que houvesse juro-te, tu sabes, tu mataste-me o amor. E dói, dói não ter coração. Dói não doer.

1 comentário:

  1. Por vezes, ou morrem ou morremos nós. Mas morrer pode ser bom, pelo menos para quem fica. Há portas que se fecham definitivamente com a morte.

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