Falam-me e lembro-me de ti



Nunca te escrevi e vou escrever hoje. Quando me falam de morte, lembro-me necessariamente de ti. Não que me estejas associado só dessa maneira, mas simplesmente se há arrependimentos na vida, embora eu não seja culpada, eu tenho esse arrependimento de não ter estado contigo mais vezes, não te ter dado mais beijos na tua cara macia, não te ter abraçado mais. Quando me falam de boas pessoas, lembro-me necessariamente de ti. Não que sejas a única boa pessoa que conheci mas és aquele que mais dignidade mostrava no olhar, sei que gostavas de viver e talvez o teu maior pesar antes de morrer tenha sido que quem devia dar valor a isso, não tenha dado. Quando me falam de memória, lembro-me necessariamente de ti. Não é que me lembre de ti todos os dias, estaria a mentir se o dissesse, mas quando olho para o céu, quando penso na existência de um outro mundo, quando penso nas minhas más acções, lembro-me de ti, e quando me falam de lembrar eu recordo que era das poucas que ainda dizias o nome e te lembravas pouco, antes de perderes todos os conhecimentos que a vida te deu no teu, com certeza grandioso, subconsciente. Quando me falam de idade e os arrependimentos dela, lembro-me necessariamente de ti. Não que eu seja velha, mas gostava que tivesses vivido mais anos ou eu tivesse nascido mais cedo para poder gozar de ti e do teu maravilhoso espírito eternamente alegre. Quando me falam de injustiça, lembro-me necessariamente de ti. Não, há gente que sofreu mais,  é verdade, mas acho que a forma como te abandonaram foi monstruosa. A última memória que tenho de ti é em Coimbra, deitada aos teus pés numa cama de hospital, adormecida. Lembro-me da dor que foi dar-te um último beijo na bochecha porque já todos sabíamos que não estarias aqui muito mais tempo. Lembro-me de chorares, lembro-me de chamares o meu nome, lembro-me da minha irmã abraçar-te e a acariciar-te, lembro-me que lhe fazes falta, lembro-me de a ver chorar por não estares lá. Quando morreste e me disseram, não chorei. Foi a minha "primeira morte". Chorei dias depois. Não de saudade, de raiva. Lembro-me que ninguém percebeu, mas sei que tu entenderias. Não me lembro de ti muitas vezes pela pressa da vida e tive contigo tarde demais, mas és e foste das melhores pessoas que conheci e eu gostarei sempre de ti, afinal daquele lado, e com gosto, só te tenho a ti. A morte é uma porcaria, sabes? Uma porcaria necessária. 

17 comentários:

  1. Andei muito tempo perdida. Mas felizmente e finalmente, encontrei um dos meus blogs favoritos! Continuas a escrever maravilhosamente bem :) ADOREI! Mil beijinhos e com um "voltarei sempre".

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  2. um wow de estar sentido e me ter arrepiado toda. eu também adoro o teu e muito obrigada linda*

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  3. Não tens nada que agradecer. Isto está um maximo! Como sempre esteve! Parabéns, a sério.

    Bem, estamos de férias. E esse destino, fez com que o Dono do meu Coração... terá de ficar longe, por uns tempos. Férias, são férias. E estar longe, durante muito tempo, de quem mais gostamos... é bastante dificil.

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  4. Está lindo Hapi, sempre lindo. Fazes-me gostar cada vez mais disto.

    Um amor nunca se vai, não. Por isso é que se volta. Infelizmente meu amor (pessoa) foi embora, mas o amor (sentimento) continua. Talvez um dia a pessoa volte porque nunca foi realmente. Quantas vezes eu ja fui e voltei, quantas vezes ele ja foi e voltou. Mas nao posso pensar em "se".

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  5. mesmo, estou um tanto ou quanto nervosa em relação ao exame :x

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  6. De nada querida, gostei mesmo muito :)

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  7. Oh Hapi acho que aquelas perguntas surgem porque quero arranjar ou achar a razão porque tudo acabou, outra vez. Acho que é isso.

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  8. O que são desculpas? Não percebi:|

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  9. Neste caso não fo dito com o sentido negativo. Eu contei-lhe a historia que remete para o post e ele ficou muito tempo calado e eu perguntei "o que se passa?" e ele disse que tinha a ficado a pensar naquilo que lhe contei e no tamanho da minha bondade e disse-me aquilo. As atitudes para com ele são talvez o rogulho, teimosia, por exemplo não lhe atender os telefonemas agora. Ele disse aquilo num sentido positivo.

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  10. Não levo a mal:) sabes, eu estou a ficar bem, estou mesmo, acho que depois tantos "vai-vens" eu decidi que não ia "tapar um buraco" e envolver-me com alguém "às três pancadas" e ser mais por mim, porque eu não preciso de ser salva eu preciso de me salvar. Cada vez mais gosto do que estou a fazer por mim e sei que não devia atender mas eu ainda me preocupo e vou preocupar-me sempre muito com ele. Eu conheço-o melhor que ele próprio, eu conheço, eu sabia que ele andava perdido e não precisava de o ver para isso. Ontem no meio dessa conversa contou-me que o treinador dele disse que ele estava de olhar vazio, sem motivação e desencontrado. E eu sabia que ele estava a querer levar para uma conversa particular e generalizei. Numa outra altura tinha-me aproveitado e acabado por me magoar. Eu desviei todos os remetentes de nós e disse-lhe o que pensava num sentido generalista (como ele ficou este ano parado eu disse que era por isso e que ele precisava de encontrar um caminho por ele e não pelos outros, entre outras coisas). Estou a ficar orgulhosa de mim. Aquela frase ainda me fez chorar porque havia dor do outro lado do telefone. Mas eu estou a lutar para me pôr boa, estou mesmo. E nunca o antes tive, e sempre pensei que sim, mas o que eu fazia era "tapar buracos", agora não, agora estou a preencher-me:)

    (isto ficou gigante desculpa!)

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