Empurraram-me. Senti os meus ossos a estalarem contra a parede e esta moldou-se ao meu corpo... Seria um ser morto neste momento se não fosse um anjo.
Atravessaram a sala, pegaram no corpo dele, demasiado frágil naquelas mãos e vieram até mim.
- ANJOS, ANJOS, ANJOS NÃO AMAM! – disseram os três num coro cantante e estridente.
- Porquê?! Não pude controlar, não pude...
- MATASTE-O PARA QUE NÃO O PUDESSE-MOS CONDENAR, LEVAR CONNOSCO!
- SIM! Que mais mal lhe poderia fazer do que entrega-lo nas vossas mãos – comecei a arder por dentro. Sabia que se começasse agora uma luta, perderia...
- HÁ SIM! HÁ UM MAL PIOR! – olharam-me maleficamente.
- NÃO, POR FAVOR, ISSO NÃO! – eles não podiam fazer aquilo.
«Não, não, não, não! NÃO!!!» Gritei por dentro, gritei, gritei, gritei. Lembrei-me de como nos podemos tornar anjos, lembrei-me de mim. Um mortal torna-se anjo quando a sua vida tem algo de divino, quando a sua alma é capaz de transcender o divino. Eu tinha um poder sobre a morte, sei que tinha. Talvez o poder de Angel fosse amar como ninguém ama. Talvez...
- ELE HÁ-DE SER TUDO O QUE MENOS QUERES! HÁ-DE SER COMO TU! HÁ-DE SER ANJO! HÁ-DE SER ALMA PROÍBIDA DE AMAR! HÁ-DE QUERER AMAR-TE, HÁ-DE QUERER AMAR SEJA O QUE FOR E NÃO SER CAPAZ! - e com isto me desfizeram em pedaços.
De repente eles chamaram todas as forças. Ergueram-se luzes de cor azul cristalina, o corpo mórbido de Angel ficou inerte no ar, a flutuar e eu...
- NÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOOOOOOOOO! – gritei.
Voei no ar, arranquei-lhe o coração do peito. Senti a carne dele dura e fria a definhar-se a minha passagem, a abrir caminho no meu punho, agarrei-lhe o órgão com a maior brutalidade possível e já o tinha na minha mão quando parei no chão. Arranquei o meu de seguida, muito lentamente para me ver sofrer, as veias palpitavam e estouravam ao meu toque e ali estava eu, a morrer.
Morri. Mas voltei a nascer. Já não sou anjo. Estou noutra vida, num novo ciclo. E que comece o inicio...
:)
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