É assim tão simples quanto isso, em tudo o que fazes na tua vida, para lá das coisas básicas que todos temos de fazer, corres um risco. Relacionares-te com as pessoas é natural e obviamente necessário mas é um erro achares que amizade, amor, e todos os outros sentimentos nobres, são para toda a gente. Não são. Dares de ti aos outros verdadeiramente falando, tem tanto de sair da zona de conforto como te despedires do trabalho que tens há vinte anos para fazer algo que nunca fizeste ou mudares do curso para te sentires realizado. Existe uma ordem de coisas que tens de satisfazer na tua vida para ser pleno, uns defendem que algumas coisas são mais importantes, outros procuram o todo. Mas como em tudo, estás sujeito aos outros. É assim nas relações, sejam quais forem e de que natureza se apresentarem. Não conheces ninguém, é um facto. Talvez seja por isso que te mandem afastar do mundo, aprenderes a viver contigo, conheceres-te antes de conhecer seja quem for. O mais correcto cliché do mundo é ama-te primeiro para poderes amar o outro. Mas podes ter essa auto-estima toda elevada, se a confundires com algum síndrome de superioridade, se te achares intocável, o curso das coisas apresenta-te a humildade, é garantido. Porque não te esqueças que podes saber o filme favorito do teu amigo, podes saber os piores e melhores momentos da pessoa que está ao teu lado, podes saber que comida gosta o teu colega de casa, mas tu acabas por não saber nada. Há nas pessoas um feitiço qualquer que eu, pessoalmente, aprecio muito, para esconder partes delas. Algumas que nem elas conhecem. É aí que entra a arbitrariedade do erro que tu podes ser na vida de alguém. Sei que é muito mais fácil quereres ser a pessoa que é a melhor na vida de outra, ficares para sempre com ela ou até as coisas acabarem muito bem porque é tudo tão bonito. É sim bonito. Há beleza em não haver conflito, mas tu nunca ouviste falar nas aulas de história de coisas assim, pois não? Há qualquer coisa de muito grande em ser o erro da vida de alguém. Ou menos dramático, em ser a pessoa que vai mudar a vida de outra, não há? É um gosto muito agridoce teres pessoas que entram na tua vida, num jogo de quem sai mais daquilo que conhece como certo, e te muda as ideias. Te revoluciona. Esses são os limões de que falam. É esse o melhor risco que podes correr em tudo o que te metas, sair de lá, desfeito, feito em pó, mas mudado, porque a possibilidade é que saias melhor de lá do que alguma vez fostes. E é nisso que tens o teu maior desafio, aceitares que a ordem natural é para que venhas sofrer. Para que te venhas a enganar. Para que as pessoas te saiam como um tiro ao lado, mas que sejam capazes de matar tudo aquilo que querias mudar em ti. É isso que é viver, é por isso que as pessoas viajam, é por isso que as pessoas se apaixonam: para se virarem do avesso. E são essas histórias que valem muito a pena.
E é tão bom ficar com o mundo do avesso. Vê-se as coisas com uma nova perspectiva. Vive-se!
ResponderEliminaracho que nunca me tinha dito isso. de ter leveza nas palavras. de tornar as coisas mais duras belas. aliás, eu nunca me tinha apercebido que o fazia. obrigada! mas a vida também é dura, e isso ao mesmo tempo assusta-me, porque claro que a escrita/leitura é um mundo à parte, posso torná-lo na utopia que eu quiser, mas a vida não é isso. tal como dizes neste texto. o mundo não é cor-de-rosa, e por isso admiro-te a frieza com que conseguiste escrever isto. e a objetividade também. queria ter essas duas qualidades mais vezes, nem sempre as encontro em mim
ResponderEliminare ainda bem que também não sou a única a sentir-me assim xD
ResponderEliminarFantástico texto, adorei! Belas palavras, o importante é mesmo ter a vida do avesso :)
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