Como se eu pudesse


Mataste-me o amor. Se vieres com flores de desculpa, traz um ramo para o teu funeral. Passo-te as unhas afiadas no peito nu, a pensar em nós, na discussão que tivemos a vinte minutos, onde te rasguei a camisa de ganga clara. Odeio-te. Acho que te amo tanto que te odeio. Das vezes todas que nos separamos, esta doeu-me mais. Não me venhas com flores. Não me venhas com palavras. O nosso amor chega sempre a este ponto de desavanço. - "Amor sabes deviam chamar-se "deve-ser" e não "mal-me-queres". Não é fácil. Não deve ser.". Perguntas-me se serão as flores ou o amor. Eu revelo-te que são pessoas - o que é quase a mesma coisa. São as pessoas que matam o sentimento, no entanto o amor mais complicado é o que me sabe melhor. Dás-te por vitorioso, de mau feitio consegues sempre tirar-me do sério. Basta falares das saudades que não tens, eu fico furiosa, mas provoco-te com a possibilidade de nunca mais falarmos e tu cedes fácil. Bem escusas de ceder desta vez. Não quero ficar mais contigo, muito simples assim. Nos dias em que andaste por aí, ligaste? Nos dias em que te perdi de vista, pensaste em mim? Acho que estas perguntas me doeram por dias só, depois habituei-me a não te ter. Foi ficando mais fácil não ter notícias tuas, por isso eu amo-te, juro que sim, mas não me venhas com flores. Não caminhes na minha direcção. Já não sei o teu som, o teu cheiro, a tua sombra. É tudo isso e é só que não tenho coragem de te dizer que te odeio. É, amo-te com muito desdém. Com muita vontade de te matar. Com muita vontade que desapareças. Há quem diga até que me engano, que te quero e não sei como. Mas eu não te quero. Quis tanto, tanto, que já não sei mais querer. Passo-te a mão na cara, limpo-te o vermelho da discussão e aviso-te que foi a última vez. Volta-me à memória que o disse há um mês atrás. Repito a raiva de te ter. Fico possuída quando vens, mas não te resisto. Só que não desta vez. Desta vez não me acendes cigarros. Não sei se foram os dias de sol que me queimaram, se ter apagado todas as lembranças de ti te levaram também, não sei o que foi, mas hoje não quero nada teu. Nem flores, nem palavras te podem salvar. Já não te amo, amor, e mesmo que te ame, não o sei fazer mais. Foi assim que decidi, não te amar... 

1 comentário:

  1. Também eu decidi há seis anos atrás deixar de amar um alguém. Foi a melhor decisão que tomei. O vaivém não alimenta um amor. Só alimenta a dor daquilo que nunca chegará a ser.

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