Continuas a ser a minha sorte


Eu sei que conhecer-te e ter estado contigo, foi uma sorte, mas agora estou sozinha como sempre desde que nunca mais fomos os mesmos. E a questão é mesmo estar. Eu deveria sentir-me sozinha, não neste estado de apatia que me leva para todos os caminhos para onde eu não quero ir. Eu deveria ser capaz de cruzar o teu caminho, de te olhar, de te enfrentar, mas tenho medo que percebas que nada mudou em mim. Eu tento todos os dias, mas não sabes o que ter exactamente a mesma vontade de há cinco ou dez ou trinta dias atrás, a mesma vontade de ficar o dia todo, a noite toda, com os olhos e com tudo o que é meu colocado em ti. Por isso, nada mudou. Espero o dia em que mude, em que eu acorde e já não pense em ti como quem espera que seja um bom dia, em que adormeça e não tenha vontade de te dizer que te amo e tenho umas saudades tuas que não cabem em mim, o dia em que eu, como em todas as vezes que tenho cinco minutos sozinha e um bocado de ar para respirar, não pense que gostava de te ter lá para me abraçar e dizer que vai ficar tudo bem. Mesmo que fosse mentira. E mesmo que eu conseguisse não chorar. E eu nunca mais chorei para toda a gente ver. Continuo exactamente com a vida que tinha antes de ti. Porque se me perguntarem eu não posso explicar e mesmo que soubessem eu nunca poderia colocar este aperto de todas as horas em conversas alcoólicas de cinco minutos. Por isso como te disse estou sozinha agora e choro. E não passa. A dor não passa. A respiração abafada não passa. O murro no estômago de te rires sem que eu seja a causa não passa. A ansiedade de nunca mais te poder dizer nada não passa. O nervosismo dos sítios que calhamos de partilhar não passa. Tu não passas mais por mim. E a única coisa que me deixaste foi a certeza de não saber nada de ti. E custa-me. Custa-me não te ter dito bom dia mais vezes, não ter falado mais contigo, não te ter dito mais daquilo que eu queria, não ter sido mais corajosa, não ter essa coragem exactamente agora. E fico a espera de algo que não vem, que eu sei que não e que ainda assim não consigo esquecer. E não esqueço, aliás todos os dias é mais forte, todos os momentos que eu fiz questão de gravar na minha memória. Quando ficava a olhar para ti na cama e tentava gravar o teu rosto. Quando acordava e tentava gravar a tua cara de sono. Quando te rias e tentava gravar as tuas bochechas. Quando te tocava e tentava gravar a tua pele. O quanto era macia e até a cor eu decorei. E os teus ombros que tentei guardar sempre com imagens novas na minha cabeça. Porque era lá que eu me sentia bem. Daqui a um mês eu vou lembrar, daqui a dois, daqui a três, tanto faz, eu vou sempre lembrar os teus lábios, os teus beijos, a tua calma. O teu cheiro. O teu sabor. A tua voz. O teu sorriso vezes sem conta. As razões pelas quais eu me apaixonei. Também aquelas que te levaram daqui. Que eu não entendo, que não batem certo. Que eu gostava de odiar, mas que só consigo pensar que é impossível teres mentido este tempo todo. Não está bem, nada está bem aqui, mas há coisas mais fortes que eu tanto como mais fortes que tu. Que não é assim simples quanto isto. Que não me ouviste, que não me ouves, porque há quem te fale mais alto e não a meu favor. Que eu não tenho absoluta certeza de nada e não posso crer. E que a única que me sobra era que eu te amava tanto como hoje. Tanto como vou amar amanhã. E que tu não escolheste ficar com isso e que eu nem sei se foi uma escolha tua. Só tua. E foi por isso que eu não escolhi insistir ou mostrar-te seja o que for para ficares comigo. Mas sinto-me amarrada, não a algo, não há nenhuma história, não a ti, mas em mim mesmo por não conseguir mostrar-te isso. E isto. E não posso permitir que os meus dias passem por passar assim porque eu não sei o que faço. E eu nunca vou saber realmente. E se te questionas porque ando com o mesmo à vontade de antes, porque sorrio e porque não te digo tudo isto é porque sei que não vale a pena. Não vale a pena contar-te porque não vale a pena tefr o que não é nosso. E eu sempre te quis. Desde o primeiro dia quis. Quis sempre dizer-te tudo e agora nada. Quis sempre ficar contigo. E era verdade tudo o que te dizia e é verdade que eu acho que somos muito mais que isto e que as nossas decisões baseadas em coisa nenhuma que valha realmente a pena. E um dia quando todo este amor me passar, talvez seja o dia em que eu te diga que era assim que eu sentia tudo. E talvez possamos ser mais que dois estranhos porque nunca foi essa a intenção e poderiam ter sido todas menos essa, quando eu me preocupo tanto contigo. E até lá vou gostar de ti e mesmo longe vou sempre querer saber de ti. E sentir a tua falta mais mil horas e perceber que não devia ter guardar na minha memória todos os teus pormenores, mas sim tudo o que sinto por ti. E uma última vez, espero que saibas que te amo e que posso parecer ou fazer seja o que for, mas escolho amar-te em silêncio porque amar-te, como te disse cem vezes, continua a ser a melhor surpresa da minha vida. E um dia, mesmo que não seja juntos, temos que ser felizes. Porque agora nem eu nem tu somos. Espero que sim e é, depois de ti, o que eu espero mais, mesmo que eu não te entenda e tu não me entendas também, espero que sejas mesmo muito feliz. Porque eu ainda gosto tanto de ti, príncipe. 

6 comentários:

  1. De tirar o fôlego. Não consegui parar de ler.

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  2. « Custa-me não te ter dito bom dia mais vezes, não ter falado mais contigo, não te ter dito mais daquilo que eu queria, não ter sido mais corajosa, não ter essa coragem exactamente agora. » é tanto isto, Raquel....

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  3. Um texto muito lindo! Bom trabalho ;)
    Segui
    http://humorcegotaveira.blogspot.com/

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  4. fizeste bem :)
    eu e ele não falamos...não lhe posso dizer...

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  5. como senti cada palavra. encantador.

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  6. Identifico-me tanto contigo. Com cada palavra que escreveste, cada sentimento que contas, vejo-me em tudo o que dizes.
    "Espero o dia em que mude, em que eu acorde e já não pense em ti como quem espera que seja um bom dia, em que adormeça e não tenha vontade de te dizer que te amo e tenho umas saudades tuas que não cabem em mim, o dia em que eu, como em todas as vezes que tenho cinco minutos sozinha e um bocado de ar para respirar, não pense que gostava de te ter lá para me abraçar e dizer que vai ficar tudo bem." Esse dia vai chegar, prometo.
    Continua a maravilhar-nos! Beijinho

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