Pulsação


Eram três da manhã, olhei no meu relógio dourado. Fumava o meu cigarro vermelho, sentada no parapeito da minha janela do terceiro andar, olhando as estrelas do céu, eles riam-me e eu soltava gargalhadas por entre fumos e copos de vinhos a pequenos goles. Quando fui ver as horas, parei um segundo para me apreciar, o meu pulso continuava fino. Lembro-me das minhas paixões sorrateiras e atrevidas e de como eu achava que as conquistava pelo tamanho do meu pulso. Tão delicado, tão forte. Achava que elas, as paixões, e eles, os homens, gostavam de mim por causa dos meus pulsos. Porque me podiam amarrar com facilidade, porque me podiam quebrar com facilidade, porque apesar disso nunca teriam força para tal. Eu achava que a minha paixão dependia muito disso, da minha força de pulso. Era tão nova, tão estúpida. Até agora entre copos de vinho é provável que aconteça algo de que me possa vir a arrepender, mas eu sempre fui fácil de levar com boas conversas, sorrisos tortos e mãos de pianista e, já agora, se me permitirem pulsos. O vento não vai dizer ninguém e tu onde quer que estejas nunca vais saber do que foi feito desse meu jeito simples de ser tomada, afinal, apesar, de ser assim mesmo simples, nunca tiveste coragem de fazer tão simplesmente assim o que te era pedido, dominar. E é tudo uma questão de força e é, por isso, que gosto de homens e de braços de ferro e olhares, como as mulheres são feitas para ser frágeis. Por falar nisso, tenho a certeza que me reprovarias pela forma como estou embriagadamente sentada na janela. Tenho saudades dessa tua protecção mas também quem me mandou ser senhora de mim, não faço nem deixo fazer. No fundo, sempre tive saudades de não ter este futuro entre copos, cigarros e sorrisos entre barba, mas o quão triste será ter saudades do futuro, que diz isso do nosso presente, pensa. Não penses, um dia de cada vez. Tu sabes que vou acabar sozinha e tu sabes que vais acabar a lembrar e talvez eu caia da janela e tu estejas a passar na rua e me apanhes. Ou apanhes o mesmo autocarro. Ou apanhes o mesmo grupo de amigos. Ou apanhes a mesma bebedeira. Os pulsos servem para isso, para agarrar.

7 comentários:

  1. Está muito bonito, mesmo. Dá para notar que a tua escrita está mais visual, mais sensacionista. Quase que dá para sentir a textura desses pulsos, os teus e os deles. E esse caminho ou microlugar onde se encontrarem... que seja calmo e assim, cheio de sensações e emoções!

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  2. És sempre maravilhosa, e continuas com uma escrita brilhante! Adoro, princesa <3

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  3. Obrigado por teres a mesma opinião que eu :') <3

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  4. calmo no sentido de ser exatamente aquilo que precisas :)

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  5. até podia ser entendido assim... mas não é Raquel. Tem por base uma imagem :)

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