A rapariga sem coração


Abriram-lhe o peito com o bisturi, era a carne mais dura de cortar que tinha passado por aquela maca fria de metal. Devagar enquanto o pouco sangue que ainda lhe havia no corpo saia. Não deixa de ser tão bela a morte, pois não? Ainda mais lentos ao abrir a pele, separada cada parte para seu lado, tal como a causa do acidente. Distraídos com os instrumentos foram prontos para lhe tocar mas as surpresas acontecem até nos dias mais escuros e ela não tinha coração. Estava de peito vazio, só pele e músculo. Procuraram. Lavaram os olhos. Correram corredores para trás e para frente. Ela não tinha mesmo coração. Um crime horrendo, certamente, tanta beleza sem coração. Chamaram tudo e todos mas ela continuou de buraco aberto para quem quisesse ver, a rapariga sem coração. Ligaram para o único número no telemóvel dela, atendeu do outro lado uma voz alegre de homem mas logo gelou. Ao chegar, só lhes disse "outra vez ela, sem coração, sem nada para dar, outra vez ela ai deitada a fingir-se de morta, a deixar-se cortar por qualquer um que lhe queira magoar, não sente nada e outra vez ela para me atormentar os sonhos e os pesadelos, outra vez, outra vez, outra vez para me castigar outra vez". Parecia realmente louco, depois de a ter morto todos os dias para lhe lembrar estava ela com outra cara, outro corpo, outra roupa mas sempre sem peito. Com outro nome, sempre bonita, em todos os lábios, em todos os cantos, sem coração. Um mês depois, um ano depois, eternamente depois para lhe lembrar do sucedido e ela sempre ali viva sem coração no peito a ser cortada mais uma vez a cada olhar dele, outra vez aquele olhar que lhe dizia o que não era saber amar. E outra vez ela de peito desabrochado a olhar para ele com aquele olhar que o fazia desejar saber amar.

19 comentários:

  1. (o que disseste foi em relação ao que eu escrevi certo? o.o)
    sim, é verdade... eu escrevi aquilo porque no outro dia vi no grupo do blog alguém a dizer que sentia falta de amar alguém e de ser amada :) e pronto, fez-me pensar que o que faz mesmo falta é amarmo-nos a nós mesmos

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  2. "Ao chegar, só lhes disse "outra vez ela, sem coração, sem nada para dar, outra vez ela ai deitada a fingir-se de morta, a deixar-se cortar-se por qualquer um que lhe queira magoar, não sente nada e outra vez ela para me atormentar os sonhos e os pesadelos, outra vez, outra vez, outra vez para me castigar outra vez"." God, tu inspiraste mesmo!

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  3. Tu a escreveres assim, qualquer dia deixas de ter amigos, por não te conseguirem acompanhar. E tenho dito :n

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  4. Insultares-me, no meu blog? Quem te julgas?

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  5. juro que não sei bem o que te dizer acerca desta deste, está magnifico! escreves mesmo bem :')

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  6. Porque faz-me lembrar que sou forte e que estou viva e que tenho as melhores pessoas ao meu lado :) * <3

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  7. Sempre maravilhosa e profunda, meu Deus! <3

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  8. ao ler este post, fiquei sem saber o que comentar, está de tal maneira, real mas com palavras bem definidas, está tão bem escrito :o

    segui-te**

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  9. meu deus, que inspiração! às vezes gostava de ser a rapariga sem coração, para não sentir nada...

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  10. woow.. não sei onde vais buscar palavras tão certas para criar textos tão perfeitos, mas continua. fiquei com pele de galinha. parecia que estava a ver um filme, de tão bem escrito que estava *

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  11. Oh, não imaginas como me soube bem ler o teu comentário. Muito obrigada, faço sempre por isso. És um doce de pessoa :)
    P.s diz-me por favor qual é o link do teu blog mais atual, e diário para eu poder seguir melhor :)

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  12. Obrigada, és um doce como já te disse :))

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  13. O meu texto preferido escrito por ti! Adoro!
    SoraiaF

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