Primeiro Prémio #4

 
« (...). O rio ficou mais recto, com menos curvas e sentia que alargara. O espaço ocupa lugar e aprendi a sentir isso. Só havia um rio assim – o Tejo. Tinha a certeza que nem um dia tinha passado mas eu tinha percorrido quase um país inteiro. Do Douro ao Tejo decorreram na minha mente apenas trinta minutos, e eu tinha a certeza de que não era uma relatividade. Não me apercebi de mudanças sinuosas de caminho, de passagens por ribeiros e ribeirinhos ou mesmo por outros rios grandiosos como o Mondego, que se deveria ter metido pelo meio do caminho. Do cheiro doce das vinhas do Douro ao cheiro ácido da cidade de Lisboa, não senti o cheiro sedutor de Coimbra, a minha eterna cidade.
  Foi em Coimbra que tirei a minha licenciatura em Geologia, e daí conhecer as terras de Portugal como conheço o pó de que sou feito, e foi lá que conheci Morgana.
  Lembro-me como se fosse hoje do medo do ridículo ao tentar seduzir uma deusa. Para mim que era um céptico, depois de conhecê-la, virei “Caeiro” e apaixonei-me pela Natureza. Mas a paixão transcendeu o intenso e transformou-se em amor. O amor da minha vida e da minha morte.
  E ainda meio zonzo perguntei-lhe onde estávamos, na tentativa de apaziguar a minha inquietação quanto ao tempo, - durante muito tempo levantei o pulso mostrando um relógio para o qual não tinha olhos, mas depois habituei-me, - e ela confirmou. E acrescentou, ainda, que de facto só tinha passado meia hora, mas que não perguntasse mais nada pois em breve teria todas as respostas do mundo na mão. Eu, como sempre, de resto, acreditei nela.
  Continuamos. E muitos podem não conhecer o que mencionarei agora mas lá no Sul, no Algarve, existe um rio cujo nome é “Odelouca” – habitam lá linces ibéricos e quem vir do céu este sitio, parecera-lhe o fim das águas do mundo formando um circulo, quase uma ilha no meio do nada– e por esse um lugar tão natural, selvagem e único em Portugal, foi esse o lugar escolhido, por ela, como o nosso destino. E chegamos. (...). »


Continua... 

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