Primeiro Prémio #3


« (...). Não respondi e deixei-me apenas levar pelo instinto animal de um homem que quer uma mulher. Continuava suave, a sua pele era como de um recém-nascido, pura. Cheirava ao seu perfume habitual, um qualquer que se vende em perfumarias e que dão um ar deliciosamente fatal à carne, feito para seduzir. Passei a mão pelos cabelos e continuavam secos nas pontas mas com ondas que o próprio mar quer roubar, compridos e fugidios. O rosto estava tenso e os maxilares contraiam-se. A sua cara era marcada, bem delineada. As costas de veludo abraçadas por uma cintura fina de libelinha, acabada numa sinuosa e acentuada curva, a anca larga e o rabo alto. Uma mulher. E eu, um homem. Ser cego revelou-me a sexualidade de outra maneira, mais que nunca dava atenção ao seu feminino.
  De repente senti um calor no ar, como se de o Outono passássemos para a Primavera, aqueles primeiros dias quentes que deixam gosto a Verão. Achei estranho o tempo correr e mudar assim, mas nada naquela viagem roçava sequer o normal. E ela mais uma vez adivinhou: “Não aches estranho se o tempo mudar… No final da viagem, no teu destino, irás perceber o porquê. Estou aqui”. Pois estava. Quando fiquei sem visão percebi que o amor é o maior valor do mundo, mas percebi que o facto de obrigarmos os outros a ser infelizes por nós, nos rouba o amor mais altruísta que há, o amor-próprio. E eu sei como deixar de me amar me matou como mata a dor de um filho a uma mãe. A minha personalidade assim o ditou, bem ou mal. (...). »

Continua...

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