Primeiro Prémio #2


« (...) Era uma jovem, demasiado bonita para ser verdade e demasiado forte para ser uma simples menina, e eu era um velho ou assim me sentia. Ela tinha 25 anos e eu tinha 44. A distância não é muita para quem vê de fora, mas quando não se vê qualquer luz, tudo nos parece mais pesado. E era assim que me sentia por vezes, um peso...
  Mas o que quero relembrar agora é o resto da nossa viagem…
  Continuamos muito devagar, pois num barquinho de papel, colocado num rio quase virgem, não se podia pedir muito mais e algo me dizia que aquela viagem não duraria muito mais tempo; sentia o barco a rasgar, o papel a amolecer e perder forma. “O barco está a desfazer-se… Trago uma noz aqui no bolso, queres continuar?”. Outra vez. “Quero”. “Estás cansado, não estás?”. “De viver? Sim…”. Ela não respondeu, mas sei que ficou frustada com a minha resposta. Viver com alguém farto de lutar e de sonhar como eu era difícil, louvo-lhe a persistência.
  Paramos numa margem. Ajudou-me a sair do barquinho e sentou-me na relva. Outra mazela.
  “Tira os sapatos. Não precisas deles no teu destino e, de qualquer maneira, estão molhados” – disse-me. “No meu destino?! Eu gosto do frio nos pés e da sensação que me dá a pele a enrugar-se nos dedos”. “Como queiras…”. Falou como se cumprisse a última vontade de um morto e, de facto, talvez assim fosse. “Se achas que vais morrer, concedes-me um último desejo?”. Não deveria ser eu a pedir?! – Pensei. “Sim, diz…”. Hesitou, respirou fundo e a tremer, - senti na sua voz -, pediu: “Fazes amor comigo?”. (...). »

Continua...

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