Primeiro Prémio #1

Este foi o texto - (postarei por partes) - com que ganhei o 1º Prémio no tal concurso, espero que gostem... 



« Pegou no barquinho de papel, colocou-o no rio e pediu-me que viajasse com ela.
Era-me impossível ver o que ela via, primeiro porque a visão me foi retirada naquele fatídico acidente, segundo porque a visão de uma mulher é única e pura, e isso eu nunca poderei ter na minha condição de homem. Confiava totalmente nela e sabia que me iria mostrar o mundo como ninguém.
         Conseguia apenas sentir em plenitude o que ela sentia vagamente: os quentes raios de sol a bater-me na cara. Disse-me que estávamos num rio rodeado de montes verdes que faziam a forma de um seio voluptuoso e que este apenas era quebrado pelas curvas do curso de água – era o Douro. Eu ouvia, não só a sua voz, mas também a água a correr furiosa, rápida e o vento revolto por entre as árvores cujo nome desconhecia.
Era Outono e eu reconheceria isso mesmo só tendo tacto. A conjugação do quente do sol e do frio do vento, típicos desta estação, é algo que identificaria em qualquer parte. Era a minha estação predilecta. Ela não mo disse, mas eu sei que, fora daquele barquinho, estava tudo castanho e com um ar velho.
         Continuámos rio acima e apercebi-me que a velocidade da viagem diminuiu.
         Pegou na minha mão e mergulhou-me os dedos na água. Cheirei as gotas e soube logo que nos encontrávamos num rio límpido e calmo, pela inexistência de odor. E disse-me: “Se pudesses ver a tua imagem neste rio, perceberias o que eu amo em ti. Mesmo sendo um rio, não consegue ser mais transparente do que tu. Mesmo sendo um elemento unicamente natural, não consegue ser mais selvagem do que tu… Não te perguntes mais o porquê de eu te amar, mesmo que não me possas ver, mesmo que não possas ver o que trago vestido ou o teu reflexo no brilho dos meus olhos”. Não percebia nem conseguia entender as suas divagações ou respostas para as quais não tinha formulado uma questão, mas talvez por me conhecer bem demais ela, Morgana, era assim o seu nome, acertava sempre no centro do meu pensamento. (...)» 


Continua...

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