Henrique V

(...) Esperei tempo demais e agora ali estava ele a render-se nos meus braços. Não resisti, tive que chorar. Era demais para o meu coração, porque lunática ou não, eu tinha comigo a certeza de que o Henrique era o homem da minha vida.

Senti as mãos do Henrique envolverem-me a cara, primeiro devagar depois com força. Limpou-me as lágrimas com os polegares e pude sentir a pele dele, que embora já tivesse tocado muitas vezes, só desta vez apreciei. Era rudes aos mãos dele. Não eram suaves, eram mãos grandes e ásperas, mãos de atleta, ainda assim eram as mais belas mãos que já alguma vez me tinha limpo o rosto. Fechei os olhos e activei o meu sistema nervoso. Senti cada dedo dele, na minha cara, no meu maxilar e, finalmente, no meu pescoço. O dedo mindinho da mão esquerda fazia um ligeiro movimento circular, muito leve, no meu pescoço. Levantei as mãos e encontrei as dele. Senti-lhe o delinear dos dedos, eram grandes mas finos, esguios mas fortes. Senti-lhe as nocas e os tendões, eram salientes e acompanhavam a rudeza própria da mão dele. Desci os dedos, muito levemente, muito a medo, e pousei-os nos pulsos dele. Ele desceu a mão e acariciou-me o queixo, avançou sobre mim e deu-me um beijo na cara, muito leve, mas forte a fazer justiça a carnez dos seus lábios. "Raquel...". Chamou o meu nome. Mas eu não queria saber, não estava disposta a desligar o meu sistema nervoso, por isso continuei. Senti-lhe os pulsos grossos, onde nenhuma fragilidade tinha lugar. Pulsos de Atleta. Corpo de Atleta. O meu corpo começou a desvairar, comecei a suar e tremia rapidamente acompanhando o bater do meu coração. Apartir deste momento eu e o Henrique já não éramos mais amigos... ou só amigos. Criou-se um laço, um quente laço. (Continua...)