Henrique - IV

(...)
Ele continuou, ali, sentado ao meu lado, a brincar com a almofada como uma criança. Henrique, um homem, o meu amigo protector, estava sentado ao meu lado guardando uma inocência que nunca lhe tinha visto. O meu olhar enterneceu... "Raquel... Preciso de saber...". Eu paralisei, quase. Os meus olhos continuavam em movimento frenético. "Saber o que?" Burra. Burra. Burra. Sou mesmo uma besta... "Raquel pará com isso! Nós somos amigos a imenso tempo... Conhecemo-nos como ninguém... Sê sincera. Eu amo-te a tempo demais, não aguento mais..." Explodi. "Henrique paro? Eu sempre gostei de ti, amei-te sempre e sempre o demonstrei. Nunca te disse mas chorei vezes sem conta por todas as namoradas que tiveste este tempo todo. Chorei pelas vezes que tive deitada no peito como amiga, simplesmente e só, como amiga. Mas habituei-me. Pensei que nunca fosses ser meu e satisfiz-me com a tua amizade, sempre com um aperto no peito, mas sobrevivi. Agora, eu que nunca esperei isto... Tu apareces assim e dizes que me amas? Assim? E todas as outras raparigas? E todos os meus sinais que ignoras-te? Estou confusa, não te percebo!" Era verdade. O meu sofrimento tinha-me congelado. Os meus olhos mantiveram-se fixos no seu peito e quando levantei a cara tinha a visão mais bela do mundo. O dourado dos olhos dele estava cheio de lágrimas, inundado de toda a arte e beleza do mundo. Ele estava a chorar. Era a primeira vez que o via chorar. "Henrique?! Não, por favor...". "Raquel, chega! Eu magoei-te, desculpa. Eu nunca percebi esses sinais, e se os vi não reagi porque tinha medo. Tu sempre foste importante para mim e por isso sempre tive medo de te magoar. Sempre me aperceber cortei-te o coração. Oh Raquel, perdoa-me. Eu compreendo que não me queiras depois do que te fiz, mas perdoa-me pelo menos". Compreende que eu não queira ficar com ele? Deve estar a gozar. Eu esperei eternidades por este momento. Esperei tempo de mais...
(continua)

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