Afogar-me


Sinto a afogar-me. Toda a água que constitui o teu corpo deve estar a engolir-me. Cada gota entra e como se não fosse água queima-me. Uma entra-me pelos olhos, é a tua imagem, a tua caçadora e esfomeada imagem. Outra gota entra-me pelo coração, é a tua presença, que a muito me abandonou mas ainda está viva e dilacerante como antes. E a maior gota de todas, a maior onda de água que me assombra não é vinda de ti, não. A minha alma está inundada por uma terrível lembrança. O que me disseste e fizeste ainda vibra e suspira com o vento que respiro... Não te consigo largar enquanto tiver todos os dias que o lembrar. Como se eu pudesse afastar toda a água de volta de mim e subir a tona... Agora esta a entrar-me pela garganta e cada vez que passas por mim vou mais e mais fundo. Ainda assim o meu orgulho não me deixa bater no fundo, ainda quando a minha vontade é encher os pulmões e fazer deles parte deste poço onde me meto. Pois, e enfim, que me sinto prestes a boiar... Não sei porque me meto no poço, porque me meti. Nunca mais chega o tempo de seca?

1 comentário:

  1. fiquei sem palavras...
    descreveste aquilo que senti à cerca de 6 meses atrás..e o tempo de seca teima em chegar, até lá vou apenas boiando naquela que é a boca do poço...

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